Para quem tem seguido de perto as edições da bruáa, a capa de “A Canção do Jardineiro Louco e outros poemas” (bruáa, 2019) remete, desde logo, para um universo paralelo, uma confirmação visual que é dada ao leitor em jeito de aviso na contracapa: “A leitura deste livro não dispensa a aquisição e leitura atenta do primeiro volume, O tigre na rua, o qual se encontra disponível em bruaaa.pt e nas melhores livrarias do país”.
A receita para este segundo volume continua a ser a mesma: ilustrações de inspiração retro, humor sonoro que degenera em gargalhadas e uma dose bem servida de surrealismo. Por aqui encontramos poemas “sobre ratinhos fofinhos, lindas florzinhas e o menino Jesus”, uma ave egípcia que, de tão sossegada que é, não anda nada, um ciclo interminável de eclosão de ovos – a não ser que acabe em omelete -, uma dissertação sobre gafanhotos, canhotos e gatafunhos, casamentos entre lesmas de diferentes geografias, um jardineiro louco ou com uma evidente falta de vista, uma árvore que dá aves que choram, uma conversa muito animada sobre arrumação que mete pessoas-caixa, um papão que “tomou uma indigestão” e lançou o pânico à escala global ou, ainda, um bigode que tinha tão poucos pelos que cada um deles teve direito a um nome.
As ilustrações de Andrea Antinori, num triângulo cromático entre o branco, o preto e (sobretudo) o azul, casam muito bem com este sortido poético, preparado por gente como Fernando Pessoa, Florbela Espanca, Bertold Brecht, Federico García Lorca, Lewis Carroll ou Robert Desnos, todos com direito a biografia em modo sinopse, reservada para o glossário final. Façam barulho que se vai ouvir poesia.
Sem Comentários