“Razões para Escrever” (NósNaLinha, 2019), de Margarida Fonseca Santos, conta-nos o percurso da autora, mas simultaneamente a relevância para entrar no jogo da palavra escrita, da escrita lúdica, onde se desafiam as regras rígidas de gramática e da sintaxe – o que importa é “desbloquear” para brincar com a palavra. “O meu campo são as palavras”, escreve Margarida no início do livro, aconselhando-nos a arrumá-las, desarrumá-las e voltar a arrumá-las numa folha branca. O que importa é escrever, escrever, escrever.
Mas escrever para quê? Escrever para contar e recontar o que se viveu ou imaginou, para partilhar emoções, para dar vida a outros mundos e personagens. Margarida, neste seu livro, acrescenta que “a escrita se apresenta como uma forma de poder falar do mundo, das pessoas, da política, da sociedade e das suas injustiças, das histórias de coragem e de perda, do sonho e da realidade, e da intimidade dos dias”.
O incentivo à escrita só faz sentido se houver incentivo à leitura. Ler, ler muito. Não chega ler por ler, é preciso saber ler bem, não ler sempre a mesma coisa. Quanto mais livros se lêem, melhor se escreve e mais se amplia o amor pela palavra escrita. Ler em voz alta é outra das formas de consciencializar a palavra no seu verdadeiro sentido.
A escrita deveria ser incentivada ao longo de toda a vida escolar dos jovens, pois é o cato de escrever que faz a ponte com a leitura. Quanto mais se ouve contar histórias, maior é a curiosidade ler; quanto mais se experimenta escrever de forma divertida, mais se valoriza o texto dos livros e dos nossos próprios escritos. É por esta razão que a Margarida nos aconselha a aprender com os outros, a envolvermo-nos na escrita dos outros, a “ouvir ler, apreciar o que os outros fizeram sem ter sempre um fantasma irritante a ditar-nos «olha, este faz melhor do que eu, que raiva!»” – só assim produziremos textos cada vez melhores. Ler e escrever têm de ser vistas como actividades que dão gosto. É aí que reside o segredo.
Para melhor apreciar a palavra escrita, será importante sublinhar o papel importantíssimo do processo de edição dos textos – ou seja, eliminar “tudo o que está a mais: retiramos os tiques de escrita, as palavras que tingem os textos, escolhemos o que se diz e o que se esconde”. O trabalho de edição dá-nos a garantia de mais qualidade. Em “Razões para Escrever”, a primeira regra para brincar é “desbloquear”, seguindo-se a práxis, ou seja, escrever, cortar, substituir, apagar e voltar a reescrever. Já experimentaram escrever uma carta de amor sem “a” em 77 palavras? Ou “escrever um texto de 77 palavras que encerre em si os números de Um a Dez”? Experimentem!
Margarida Fonseca Santos nasceu em Lisboa, a 29 de Novembro de 1960. Tirou o Curso Superior de Piano no Conservatório Nacional, tendo como objectivo ser professora de Formação Musical no ensino vocacional. Deu aulas em várias escolas, nomeadamente na Escola Superior de Música de Lisboa, entre 1990 e 2005. Começou a escrever em 1993 e isso tornou-se uma verdadeira paixão, paixão essa que a levou a mudar de vida. Deixou o ensino da música e, neste momento, dedica-se a tempo inteiro à escrita. Tem vários livros publicados, na sua grande maioria para crianças e jovens, e escreve com regularidade para teatro. Orienta ateliers de escrita para crianças, adultos e professores.
Sem Comentários