António Tavares nasceu em 1960, na então província ultramarina portuguesa de Angola. Em 1975, na sequência do processo de descolonização de África, mudou-se para Portugal e passou a frequentar o liceu no Porto. É licenciado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, tendo começado a escrever aos 52 anos de idade. Várias vezes finalista do prémio LEYA, foi o vencedor no ano de 2015.
“Homens de Pó” (Dom Quixote, 2019) é uma narrativa vívida, que contém difíceis imagens, cheiros, cores e sons – muitos deles altos -, e que interpela o leitor sobre a importância das componentes mais relevantes para a construção das vidas pessoais num mundo novo, desconhecido e árido para sobreviver como retornados (os portugueses) ou recuados (os africanos): os homens do pó.
Toda a acção, após a muito custosa partida de África, é passada no “Verão Quente de 1975”, quando o império colonial agoniza provocando o êxodo de centenas de milhares de pessoas que regressam, confusas, traumatizadas, desenraizadas, solitários e perdidas à (velha) Metrópole, onde encontram espaço para a utopia e para o sonho, mas ancorados numa dura realidade de operários.
A narrativa, que apesar das circunstâncias difíceis dos protagonistas flui de forma sincopada e com ironia, é construída na primeira pessoa a partir de alguns desses indivíduos – grandes lutadores anónimos, sobretudo sacrificados trabalhadores operários de estradas, como o narrador, Bombazine, Patex ou o Pivô -, que buscam a sua identidade e o seu lugar num Portugal que não conhecem mas que, também, não se conhece a si próprio, por estar à procura de uma identidade num momento de abrupta mas inexorável mudança política e social.
O autor revela mestria na transmissão dos sentimentos vividos naquele momento histórico decisivo, num livro que é também um documento histórico que descreve, com imensa coragem e lucidez, o período revolucionário e o processo da descolonização.
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