“Um somatório de conhecimentos inúteis, ou como brilhar em jantares de amigos.”
Sabe calcular o factorial de 6? Pôr em palavras suas o que é o antropoceno? A razão pela qual os testículos dos mamíferos estão do lado de fora? Se respondeu sim a tudo isto, talvez a “Miscelânia de Factos Essenciais e Curiosidades Inúteis do Senhor Lubock” (Objectiva, 2018) não seja um livro para si. Porém, caso se tenha espalhado ao comprido em pelo menos uma delas, será com deleite que irá viajar por esta mescla de História, Política, Cultura, Artes ou Personalidades, sempre com a inutilidade e o divertimento por perto, com “histórias que de tão irreais parecem ficção“.
Entre estas muitas histórias, boatos, factos, rumores ou mitos urbanos há um pouco de tudo: a invenção das chips – aquelas batatas fritas aos palitos – à boleia de uma irritação de chef, irritado perante um cliente que achou as suas batatas empapadas e cortadas de forma grosseira; muitos episódios ligadas ao futebol, como o facto de os adeptos do Barcelona serem conhecidos por culés por mostrarem o traseiro quando se sentavam no muros do antigo estádio, ou de os adeptos do Arsenal se auto-proclamarem gunners porque os seus fundadores trabalhavam em fábricas de armamento; o caso da madeixa de cabelo de Neil Armstrong, vendida por um barbeiro a um preço simpático, que acabou num rodopio de advogados e numa lei sobre direitos patrimoniais sobre famosos; a jogada de mestre da Walmart, que a certa altura decidiu colocar as fraldas para bebé lado a lado com packs de jola; ou de como “Every Breath You Take” não passa de um caso de stalking daquele tipo dos Police.
Apresentam-se todos os cognomes dos Reis de Portugal, listam-se os costumes e manias para entrar num novo ano com o pé certo – na Rússia chega a beber-se um cocktail com as cinzas de um papel com um desejo escrito -, elencam-se os mil e um medos – como a Anuptafobia, ou o medo de ficar solteiro -, reúnem-se os melhores epitáfios – como o clássico “Eu disse-vos que estava doente“, de Spike Milligan -, ou contam-se episódios curiosos como terem faltado 32 pesos a García Marquez quando chegou o dia de enviar pelo correio “Cem Anos de Solidão”, de Karl Marx dormir na mesma cama com o seu secretário pessoal por falta de espaço ou de, quem sabe, ter na verdade sido uma mulher feia a escrever a Bíblia.
A paginação está entre a de uma revista de um jornal semanário e uma edição writer’s cut do livro do Guinness, com muitas variações de lettering, a inclusão de imagens e páginas que variam entre o branco e o preto, tudo contrastado por uma capa dura e amarela onde reencontramos aquele cachorro fofinho que os ingleses adoptaram para uma das suas lojas musicais. Uma enciclopédia humorística, muito bem trabalhada por Paulo Ferreira, que fará de si o rei do próximo jantar de família ou de uma daquelas noites de copos com os amigos. Até lá, poderá ir sempre treinando com a vizinhança nas viagens de elevador.
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