“Há palavras que nasceram para ser pássaro.
Este livro vai atrás dessas que nunca se deixam apanhar.
Não para as prender. (Como se isso fosse possível?)
Somente para lhes tirar um retrato.”
Comece-se, no que toca a este “As Palavras Que Fugiram do Dicionário” (Caminho, 2018), por falar nas ilustrações de Richard Câmara, apontadas ao coração, ao riso e ao espanto da pequenada. Desenhos com um traço vigoroso, cores vivas e um olhar certeiro e alquímico sobre o alimento literário servido por Sandro William Junqueira, que oferece aos mais pequenos uma mistura de poesia, filosofia e, mais do que tudo isso, divertimento.
De entre estas palavras fugidias, há espécimes como Alfabelo – “A pessoa que organiza alfabeticamente a beleza” -, Dentógrafo – “Instrumento de medição utilizado pelos pais para contabilizar o número de vezes que os filhos escovaram os dentes” –, Humordificador – “Máquina usada para extrair o humor e a graça de lugares onde existam em excesso, despejando-os depois em lugares tão inóspitos quanto hospitais ou repartições de finanças” – ou, ainda, Muscalação – “Conjunto de exercícios que visam o fortalecimento dos músculos do silêncio”.
Neste festim gramatical ilustrado, há também árvores que dão jaguares em vez de mangas, interruptores que mudam do dia para a noite sem perguntarem antes ou fios invisíveis que parecem tornar todas as coisas possíveis. Tudo na linha poética tão característica de Sandro William Junqueira, ele próprio um amante de uma ocupação tão nobre quanto Nadografar – “quem nadografa regista num caderno a altura, o comprimento e a largura do nada acontecer”. Um poeta, pois claro.
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