“O bicho-da-seda” (Editorial Presença, 2015) é a segunda aventura policial escrita por Robert Galbraith, pseudónimo escolhido – e revelado após vendas não muito famosas – por J. K. Rowling para uma viragem temática na sua carreira Potteriana.
Tal como aconteceu com “Quando o cuco chama”, habitamos o território dos detectives privados e da competição com o poder instituído, personificado pela Polícia. Um mundo com menos meios mas revelador de uma perspicácia verdadeiramente inventiva – se a corrida para a solução ocorresse pela revelação de uma pista, então daria para dormir uma sesta antes da chegada do segundo classificado.
Quando entramos no clube dos detectives privados, deparamo-nos logo à entrada com Philip Marlowe, um verdadeiro enfant terrible do universo detectivesco. Cormeron Strike, porém, tem já direito a uma poltrona de couro, admissão conseguida através do seu carácter e destino bem singulares: uma vocação para o trabalho por conta própria, nascida de um acidente em serviço – do então sargento Cormeron -, da qual resultou uma condecoração por actos de coragem, uma prótese no lugar de metade de uma perna desaparecida e a necessidade de uma vida alternativa.
Pelo escritório adentro entram pedidos para provar e investigar infidelidades de casados e amantes e, entre eles, surge o pedido de Leonora Quine, para que Cormeron descubra o paradeiro do seu marido, Owen Quine, um escritor desaparecido após ter terminado um romance onde as personagens com comportamentos sempre bem escabrosos são facilmente reconhecidas no mundo real. A acção desenrola-se em Londres, onde facilmente reconhecemos as inúmeras estações de metro em que Strike, com a sua assistente Robin, uma loira arruivada, se movimenta na descoberta do homicida.
A pergunta é inevitável: no que é que Cormeron marca a diferença? A resposta: temos uma atmosfera britânica – que, neste momento, é sempre refrescante em alternativa às cinzentas terras nórdicas – , um homem que para além de um íntimo retorcido tem uma incapacidade física e um ambiente que, genuinamente, nos faz correr com ele.
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