Oficialmente designada de República Democrática Federal da Etiópia, a – para os amigos – Etiópia, é um país encravado no Chifre da África, sendo um dos mais antigos do mundo e a segunda nação mais populosa da África.
Mulatu Astakte não chega a ser assim tão centenário mas, do alto dos seus 75 anos, é considerado por muito bom melómano dado às andanças jazzísticas o pai do Ethio-jazz, tendo passado a juventude entre a Inglaterra e os Estados Unidos, onde aprendeu a tocar piano, percussão e clarinete.
Regressou depois ao seu país, onde se dedicou a criar um cocktail sonoro do qual fazem parte um jazz a dar para o cool, um raminho bem aviado de salsa e, também, alguns maneirismos que tanto fazem lembrar os contos das Mil e Uma Noites como o espírito indiano que os Beatles tão bem souberam captar no irrepetível “Revolver”.
Foi com lotação esgotada que o Capitólio celebrou a carreira do músico etíope, numa actuação em que Mulatu se passeou entre a percussão, as teclas e, sobretudo, o vibrafone, com curtas apresentações dos temas que só a muito custo chegavam aos ouvidos do público, quase como murmúrios – a não ser quando chegou Yekermo Sew, tema que integra “Broken Flowers”, esse monumento cinéfilo construído por Jim Jarmush.
É um daqueles concertos que, na aparência, têm todo o formalismo e o guião do jazz clássico, com o protagonismo a ser dado, de forma alternada, aos músicos que acompanharam Mulatu em palco, com direito a solos para a posteridade e até um búzio tocado ao limite. Mas há, também, um forte travo africano, como se caíssemos dentro de uma nova aventura de Lara Croft onde esta, depois de se ter vestido como Cleópatra, nos levasse numa visita guiada às pirâmides egípcias – que, afinal, estão tão só a mais ou menos duas fronteiras da Etiópia.
Durante alguns dos solos, eram bem audíveis as cantorias de Mulatu sobre os acordes e o esboçar de uma tímida dança, o que acabou por conferir uma certa dose de intimidade, juntando-se a postura dos músicos que fizeram do palco um ponto de encontro a que só faltou mesmo um bar aberto na frente do palco. Músicos que, depois de encerrada a festa, ainda brindaram Mulatu com um grito de guerra, a que se seguiu um efusivo pedido de encore que acabou por não ser atendido. A hora da caminha já tinha passado, e muito fez Mulatu para ter direito ao descanso do guerreiro.
Fotos de Tiago Ferreira (ver Galeria Fotográfica)
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