Como manda a tradição, o Deus Me Livro apresenta aos leitores os títulos que as editoras prepararam para o assalto às livrarias nestes primeiros meses de 2019. Seguem-se as novidades cozinhadas pela Antígona, à boleia de sinopses e press releases.
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Ficção
“As Trevas e Outros Contos” | Leonida Andréev
Tradução do russo de Nina Guerra e Filipe Guerra
Data de lançamento: 21 Janeiro
Génio louco, ser revoltado e místico, Leonid Andréev (1871-1919) é um dos autores mais importantes da literatura russa. Anticzarista e antibolchevique, homem de exílios frequentes, legou-nos uma obra monumental pautada pela indignação e pelo amor à verdade. Intitulava se um apóstolo da auto-aniquilação, e versou como ninguém o caos do mundo e a loucura e as tragédias do seu semelhante. A presente colectânea reúne os contos «No Nevoeiro», «O Governador», «Judas Iscariotes», «Os Fantasmas» e «As Trevas».
“Guerracivilândia em Mau Declínio” | George Saunders
Tradução de Rogério Casanova
Data de lançamento: 21 Janeiro
Depois de Pastoralia, em 2017, a Antígona edita o aclamado livro de estreia de George Saunders. Guerracivilândia em Mau Declínio (1996), formado por seis contos e uma novela, publicados na New Yorker e na Harper’s, tem por tema a desumanização do homem submetido a trabalhos absurdos, quer em parques temáticos distópicos quer em mecas do consumo, mares citadinos onde vogam empreendedores ultraliberais e se afundam subalternos: em suma, uma América decadente, sem bóias de salvação nem redenção. Num tom desesperado e hilariante, a brilhante estreia de George Saunders estará em breve finalmente disponível em português, numa edição que inclui uma nota do autor sobre a génese do livro.
“O Tacão de Ferro” | Jack London
Tradução de Inês Dias
Prefácio de Howard Zinn
Posfácio deLeon Trotsky
Data de lançamento: 18 Fevereiro
O Tacão de Ferro (1908) é uma das principais distopias do século XX e viria a influenciar 1984, de George Orwell. É, em suma, a história da ascensão ao poder de uma ditadura oligárquica e fascista – o Tacão de Ferro – nos EUA, que subjugará a nação. Em forma de manuscrito escrito por Avis Everhard, mulher do cabecilha da resistência, e encontrado ao fim de setecentos anos pelo historiador Anthony Meredith, conserva toda a sua relevância hoje em dia. Esgotado há décadas em Portugal, O Tacão de Ferro, «clássico da revolta», é agora publicado numa nova tradução directamente do inglês e prefaciado por Howard Zinn.
“Uma Solidão Demasiado Ruidosa” | Bohumil Hrabal
Tradução do checo de Ludmila Dismanová
Data de lançamento: 11 Março
«Há trinta e cinco anos que trabalho com papel velho, e é essa a minha love story.» Assim começa Uma Solidão Demasiado Ruidosa (1976), a história do velho Hanta, que tem por ofício prensar e destruir papel, resgatando, no entanto, da hecatombe os livros a que se vai rendendo e as mais belas descobertas em pilhas de papel – de Kant e Hegel a Camus e Lao-Tsé –, todos eles proibidos pelas autoridades. Ao destruir obras, por ofício, e ao resgatá-las, por amor, Hanta protagoniza este romance – também ele censurado e publicado em samizdat – sobre a indestrutibilidade da palavra e o seu poder redentor em tempos bárbaros.
“Dias e Noites de Amor e de Guerra” | Eduardo Galeano
Tradução de Helena Pitta
Data de lançamento: 25 Março
Prémio Casa de las Américas, 1978
Fruto da repressão no Uruguai nos anos 70 e escrito durante o exílio do autor, Dias e Noites de Amor e de Guerra (1978) é um testemunho da vida quotidiana em tempos de fascismo, do poder do medo para silenciar povos e da coragem dos homens que recusaram calar-se. Um tributo à coragem e perseverança da América Latina e um relato de episódios da vida do autor.
“O Quépi e Outros Contos” | Colette
Tradução de Manuela Gomes
Data de lançamento: 22 Abril
O universo envolvente de Colette e a sua escrita poética e elaborada deram-nos os melhores argumentos para a presente selecção de quatro contos («Le Képi», «Le Tendron», «Bella Vista» e «Les vrilles de la vigne»). Relatos que fazem tombar as máscaras da vida quotidiana, pela hábil mão de um dos vultos que souberam ler como ninguém o homem e a fragilidade das suas relações.
“O Gangue da Chave-Inglesa” | Edward Abbey
Ilustrações de Robert Crumb
Tradução de José Miguel Silva
Data de lançamento: 11 Junho
Uma obra de culto de um dos pioneiros da ecologia radical, para ler ao som de Neil Young e de Sabotage, dos Beastie Boys. | Rolling Stone | Uma road story ecologista. |Le Monde | Uma obra-prima do anticapitalismo, um mergulho no universo de Easy Rider. | Les Inrockuptibles
Revoltados com a destruição do Oeste americano pela indústria e pelo governo, quatro insubmissos decidem lutar contra a «máquina»: Hayduke, bebedolas e veterano do Vietname, Doc Sarvis, cirurgião pirómano, a sua bela amante, Bonnie Smith, e Seldom Seen Smith, mórmone e guia experiente. A quadrilha destrói pontes, estradas e vias-férreas que cruzam a aridez e, armada simplesmente com uma chave-inglesa e alguma dinamite, afronta os garantes da ordem e da moral, no seu encalço.
Escritor e ensaísta, Edward Abbey(1927-1989) partiu em 1944 à descoberta do Oeste americano, onde se apaixonou pelo deserto. Foi guarda-florestal em diversos parques nacionais nos EUA. Ícone da contracultura, recusou um prestigiado prémio da Academia Americana de Artes e Letras, dado que a cerimónia de entrega do galardão coincidia com um compromisso pessoal: a travessia de um rio no Idaho. Consta que as suas derradeiras palavras foram «Sem comentários», e, a seu pedido, jaz eternamente num local desconhecido, no deserto do Arizona.
“Despachos” | Michael Herr
Tradução de Paulo Faria
Prefácio de Robert Stone
Data de lançamento: 22 Abril
Co-argumentista de Nascido para Matar, de Stanley Kubrick, e autor de inesquecíveis tiradas de Apocalypse Now, de Francis Ford Coppola, Michael Herr legou-nos uma obra de culto sobre a Guerra do Vietname e um dos mais fortes testemunhos sobre este conflito. Na linhagem de George Orwell e Ernest Hemingway, e do New Journalism de Joan Didion e Norman Mailer, Michael Herr, correspondente da Esquire no Vietname, leva-nos numa viagem alucinada ao horror e à loucura dos homens em tempos cruéis, neste clássico de 1977, inédito em Portugal.
Não Ficção
“As Bênçãos da Civilização” (título prov.) | Mark Twain
Tradução de Luís Leitão
Prefácio de Fernando Gonçalves
Data de lançamento: 6 Fevereiro
Uma selecção que revela Mark Twain como o cronista da desonra americana, fiel a ideais pacifistas e anticolonialistas. Estes ferozes textos contra a guerra, o imperialismo e o racismo, escritos entre 1870 e 1908, abordam tanto infâmias dos EUA (Cuba arrancada aos Espanhóis, a segregação de chineses na Califórnia, o linchamento de negros no Sul) como as tiranias no globo. Uma denúncia de imperialismos hipócritas, com a perfurante ironia de Mark Twain, em linhas de uma assombrosa actualidade.
“A Sociedade Autofágica: Capitalismo, Desmesura e Autodestruição” | Anselm Jappe
Tradução de Júlio Henriques
Data de lançamento: 25 Março
Na sua obra mais recente, Anselm Jappe parte do mito de Erisícton, o rei da Tessália, que se devorou porque nada podia saciar a sua fome, um castigo divino por ter violado a natureza. Esta antecipação de uma sociedade condenada a uma dinâmica autodestrutiva é o ponto de partida deste livro, que permite ao autor analisar o mundo contemporâneo, prosseguindo a crítica do valor e a releitura das teorias de Marx, e dar-nos um retrato da actualidade como o auge do excesso capitalista.
“Um Sétimo Homem” | John Berger
Fotografias de Jean Mohr
Tradução e prefácio de Jorge Leandro Rosa
Data de lançamento: 6 Maio
John Berger disse em tempos que certos livros, ao invés dos seus autores, rejuvenescem à medida que o tempo passa. É certamente o caso de Um Sétimo Homem. Publicado em 1975, este apaixonante relato foi um dos primeiros estudos sobre a vida e as experiências dos trabalhadores imigrantes nos países ocidentais, no pós-Segunda Guerra Mundial. Financiada com parte do que lhe rendeu o Booker Prize (terá dado a outra metade do prémio aos Panteras Negras), é uma obra seminal cada vez mais relevante e uma incisiva resposta ao ressurgimento da retórica anti-imigração.
“Desobedecer” | Frédéric Gros
Tradução de Miguel Martins
Data de lançamento: 20 Maio
No momento em que as decisões dos «especialistas» se orgulham de ser o resultado de estatísticas anónimas e frias, desobedecer é uma declaração de humanidade.
Desobedecer é um apelo à democracia crítica e à resistência ética, uma análise das causas da obediência política e do conformismo social, pela mão de Frédéric Gros, professor de Filosofia na Universidade de Paris X e curador da obra de Michel Foucault na Pléiade. Nesta obra, Frédéric Gros questiona as raízes da obediência política e do respeito pela autoridade, e leva-nos a pôr em causa certezas adquiridas e injustiças económicas, e a revalorizar a responsabilidade política.
“Porquê Olhar os Animais?” | John Berger
Tradução de Jorge Leandro Rosa
Data de lançamento: 8 Julho
Um conjunto de ensaios que explora a degradação da relação entre o homem e a natureza na era do consumismo moderno, e a redução dos animais (outrora no centro da existência humana) à categoria de espectáculo. Uma reflexão sobre o tortuoso percurso do animal, de musa inspiradora na arte do homem primitivo a divindade espiritual e, actualmente, a fonte de entretenimento, confinado a circos e jardins zoológicos.
“Clássicos Revisitados” | Kenneth Rexroth
Tradução de Júlio Gomes
Data de lançamento: 24 Junho
Conjunto de breves e brilhantes ensaios publicados originalmente na Saturday Review, entre 1965 e 1969, sobre sessenta livros que são, para o autor, «documentos essenciais da história da imaginação», do Oriente ao Ocidente: do Épico deGilgamesh, passando pela Ilíada e a Odisseia, a Beowulf, de escritores como Flaubert, Rimbaud, Mark Twain a Sterne, entre outros. Leitor voraz, poeta e autodidacta, Kenneth Rexroth (1905–1982) – considerado pela revista Time «o pai dos beats» – foi uma das figuras mais destacadas da San Francisco Renaissance nos anos 50 e 60 e desempenhou um papel muito activo em vários grupos libertários em defesa dos direitos civis e contra a Guerra do Vietname.
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