O site “Noisey” baptizou-o este ano como “o melhor guitarrista do mundo” – o tuaregue Bombino é um dos mais distintos porta-vozes da sua cultura milenar. Inscreve-se numa tradição de activismo rock n’roll já antiga, de quando as guitarras eléctricas chegaram ao Norte de África, nos anos 60, até aos dias mais recentes de 2007, quando o instrumento foi banido pelo governo do Níger, levando o músico ao exílio.
O aclamado guitarrista goza hoje de uma sólida reputação em todo o globo – entre os fãs contam-se figurões como Keith Richards, Robert Plant e Win Butler. Trabalhou com nomes igualmente sonantes na produção dos seus discos: Dan Auerbach, dos Black Keys, e David Longstreth, dos Dirty Projectors.
No mais recente trabalho intitulado “Deran”, Bombino deixou de lado os produtores-estrela do ocidente, regressando às suas raízes musicais africanas. O disco é uma inspirada mistura de blues, rock e reggae, condimentada com os sons da sua árida terra natal africana.
No passado sábado (22 Dezembro), o músico passou pelo palco do B.leza Clube, num concerto que foi um acontecimento – Bombino está no auge dos seus poderes musicais, com uma nomeação para os Grammys no sapatinho, pelo que a noite só podia ser uma celebração.
O grosso da setlist veio do mais recente “Deran”, com algumas incursões por músicas mais antigas. A sala, completamente lotada, aderiu desde o início com cânticos, palmas e euforia a rodos. Ao vivo, a energia dos quatro músicos não é nada menos que espectacular: quando a bateria propulsiva do americano Corey Wilhelm arranca, é uma vertiginosa locomotiva, uma máquina de ritmo infernal.
A secção rítmica fornece a lenha para a fornalha, e a guitarra líquida de Bombino indica o caminho. A mistura vibrante, algures entre o afro-beat e o (quase) punk, obriga o corpo a mexer: tanto assim que o baterista, logo na terceira música, tocou com um vigor tal que lhe saltaram os óculos – o músico só se lembrou deles no encore. “Tehigren” viu brilhar também o carismático baixista Youba Dia, que mostrou que o virtuosismo de Bombino tem ali um rival à altura.
Entretanto a guitarra ritmo de Illias Mohammed funcionava como um relógio, marcando a base das melodias serpenteantes da banda. Bombino meneava-se com entusiasmo, como um Jimi Hendrix de túnica, atacando as cordas com um groove hipnótico. Em “Her Tennere”, houve uma rapariga do público que aproveitou o entusiasmo geral para dançar alegremente junto dos músicos, num momento de flagrante boa onda.
A fechar o alinhamento, a tribal “Deran Deran Alkheir” sossegou os ânimos, e em seguida “Acokas” elevou-os novamente até ao limite – aquele baixo funky reinou durante toda a música, e quando o ritmo acelerou novamente, arrebatou toda a audiência.
Houve ainda tempo para o encore, com “Imajghane” a mostrar os dedos impossivelmente rápidos de Bombino em acção. A vibração reggae (Bombino chama-lhe Touareggae) do tema encaixou na perfeição, e a noite acabou com uma vénia dos músicos perante um público completamente rendido, e uma certeza: Bombino merece um Grammy. Com concertos deste calibre, até merece dois ou três.
Galeria fotográfica (Fotos de Luís Miguel Andrade)
Promotora: Media Sounds
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