Dorothy Koomson é uma romancista inglesa contemporânea, descendente de ganeses, já referida como “a autora de ficção adulta feminina mais vendida na Grã-Bretanha”. É também a autora do bestseller “A Filha da Minha Maior Amiga” (editado em Portugal em 2016 e já traduzido em trinta línguas), bem como deste “A Sereia de Brighton” (Porto Editora, 2018).
Praia de Brighton, Verão de 1993: cenário de um homicídio a partir do qual arranca toda a trama, com um grande mistério por base e um enredo que é muito mais que a mera resolução de um caso.
Trata-se de uma história envolvente e equilibrada, na qual a autora doseia, de forma sábia, a informação que vai cedendo, a conta-gotas, ao leitor, mantendo-o interessado e atento. Ao mesmo tempo, desenrola-se uma história onde se aprende sobre a persistência e a esperança pessoal, através de uma pesquisa que envolve de todos os meios possíveis técnico-científicos (incluindo o recurso a árvores genealógicas de ADN).
Duas amigas adolescentes negras (Nell e Jude) descobrem o corpo de uma jovem, também negra, na praia. O corpo, nunca reclamado da vítima, passa a ser conhecido pela Sereia de Brighton, por ter a tatuagem de uma sereia. Três semanas mais tarde, Jude desaparece.
O romance balanceia os seus capítulos entre os anos 1993, 2007 e a actualidade, 25 anos depois do assassínio.
Sendo especialista em decifrar códigos de ADN, Nell, a viver atormentada pelo passado, pesquisa exaustivamente o que lhe é possível sobre sequências de ADN autossómico (herança genética transmitida pelos nossos pais) e ADN mitocondrial (os genes transmitidos pelas nossas mães e por todas as mulheres da linhagem familiar), abandonando para isso o seu emprego, 25 anos volvidos sobre o crime, para descobrir a verdadeira identidade da jovem assassinada e saber o que aconteceu à sua amiga Jude, naquele verão. Quanto mais perto fica da verdade, maior é o perigo. Alguém parece estar a seguir-lhe cada passo, e Nell já não sabe em quem confiar.
Romance intenso, emotivo e cheio de surpresas, “A Sereia de Brighton” é uma história de fantasmas que perduram e de um amor fraternal, para lá de todas as imensas dificuldades. Temas complexos são muito bem abordados nesta obra: a violência sobre as mulheres, o racismo, a intimidação policial, o bullying. Temas fortes tratados com inteligência, subtileza e sensibilidade.
De facto, poderia ser mais uma história de duas adolescentes negras que descobrem uma outra, também negra, morta numa praia, e que têm de lidar com os inúmeros problemas suscitados, em particular (sentirem na pele) o racismo. Mas a imaginação da autora ultrapassa todos os limites que o leitor antecipa e vê mais longe, conseguindo introduzir elementos inovadores, situações inesperadas e personagens, mesmo as secundárias, que não são traçadas para serem categoricamente boas ou más.
Numa escrita simples e desenvolta, ajudada pela cadência dos capítulos muito curtos que deixam tudo em suspenso (e em suspense), este livro proporciona uma leitura sempre interessada até ao fim.
Uma particularidade que surpreende: as personagens principais (Nell e a irmã Macy) falam sempre na primeira pessoa mas, ao invés de tal originalidade baralhar o leitor, torna a descoberta do mistério mais íntima, através do conhecimento mais profundo das personalidades de ambas.
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