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Amadeo de Souza Cardoso, Helena Almeida, Mafalda Brito, Rui Pedro Lourenço, Deus Me Livro, Barca do Inferno
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“Amadeo de Souza Cardoso” + “Helena Almeida” | Mafalda Brito e Rui Pedro Lourenço

Por Julia Martins · Em 02/10/2018

Afinal, o que é uma obra de arte? Para que serve a arte? O que é a pintura? Para encontrar possíveis respostas teremos de ler “Helena Almeida” e “Amadeo de Souza-Cardoso” (Barca do Inferno, 2018), onde encontramos brevíssimos apontamentos para o enquadramento histórico e pistas várias para satisfazer a curiosidade e desvendar segredos, em paralelo com uma excelente ilustração.
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“Maria Helena” retrata o trabalho artístico de uma pintora ímpar, que constrói “pinturas tridimensionais, com comprimento, altura e largura”, fazendo-nos questionar as (im)possibilidades da pintura. A artista ensina-nos que as possibilidades são inúmeras e que o espaço da tela é diminuto, utilizando a fotografia como forma de repensar e prolongar “os limites da obra”, tendo o corpo e a cor um grande impacto nas suas criações artísticas.

Amadeo de Souza Cardoso, Helena Almeida, Mafalda Brito, Rui Pedro Lourenço, Deus Me Livro, Barca do InfernoO corpo manifesta-se cruzando várias práticas artísticas, surgindo como a origem de toda a criação. Daí nasce a obra, daí nasce a arte. O corpo está sempre presente “dentro de um espaço: um corredor, uma parede, o chão, ou mesmo o espaço criado pelo próprio corpo”. A desconstrução do espaço, o lugar da artista dentro, fora ou nos limiares deste espaço, surge como enquadramento conceptual da obra artística de Helena Almeida, sempre explicado, aos jovens, de forma simples e rigorosa. A artista e o corpo são a própria pintura: “A minha pintura é o meu corpo”.

A tinta azul, feita manualmente, transmite “duas ideias fundamentais espaço e energia”. As ilustrações, de página dupla, realçam o azul, a cor espacial. Azul é espaço. É como engolir a pintura, é pôr espaço na pintura, tal como ilustrado numa das páginas.

Amadeo de Souza Cardoso, Helena Almeida, Mafalda Brito, Rui Pedro Lourenço, Deus Me Livro, Barca do Inferno

Em “Amadeo de Souza Cardoso” descobrimos o esprito inquieto, o olhar atento e o prazer do desenho intrínseco ao artista que o conduziu a Paris, onde “descobre a sua grande paixão: a pintura. Será no encontro entre as suas raízes portuguesas de Manhufe e o grande centro cultural e artístico da época que irá nascer a sua obra”.

Será na efervescência do meio artístico parisiense que o seu destino muda radicalmente. O contacto com grandes artistas como Picasso, Braque, Robert e Sonia Delaunay abre-lhe o caminho da pintura. Rompe com “a tradição” e cria um novo caminho, onde “as linhas simplificadas e ondulantes”, as cores fortes e vibrantes como “amarelos, azuis e vermelhos que o pintor coloca lado a lado, minuciosamente, valorizando ao máximo os tons”, são o início de novos entendimentos e olhares da realidade, onde novas técnicas e experiências marcam o seu processo criativo. Amadeo dá, assim, os primeiros passos no “processo de reprodução através de chapas de zinco permitia utilizar apenas uma cor. Amadeo teria, de mostrar a mestria do seu trabalho apenas com o preto da tinta-da-china e o banco do papel”.

Amadeo de Souza Cardoso, Helena Almeida, Mafalda Brito, Rui Pedro Lourenço, Deus Me Livro, Barca do Inferno“Se o importante na arte não é a imitação da natureza, será possível eliminar o tema e pintar pensando apenas nas formas e nas cores?”. Para compreender melhor a obra de Amadeo não podemos omitir a importância do cubismo e do futurismo no seu percurso artístico, surgindo daí a necessidade de pensar o movimento. A sua obra é marcada por elementos geométricos e linhas encurvadas e coloridas.

Amadeo privilegia as palavras dinamismo e velocidade, a ideia é a da “representação das várias perspectivas do mesmo objecto”. A elegância, mistério, imaginação, emoção e simbolismo habitam nas suas telas.

As ilustrações, em ambos os livros, são inspiradas nas obras artísticas dos pintores, respeitando a originalidade e as cores utilizadas pelos artistas, num diálogo entre texto e ilustração harmonioso e ritmado.

“Helena Almeida” e “Amadeo de Souza Cardoso” são livros que homenageiam dois grandes vultos da pintura portuguesa, onde os jovens leitores poderão saciar a curiosidade e ampliar os seus conhecimentos sobre pintura, sendo que, como lemos no final de ambas as obras, “a leitura deste livro não dispensa o contacto directo com as obras de arte”. Aceitemos o desafio e descubramos as maravilhosas obras destes artistas nos museus nacionais e internacionais. Fica o convite.

 

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Helena Almeida e Amadeo de Souza-Cardozo são apresentados numa edição bilingue, com texto de Mafalda Brito e ilustrações de Rui Pedro Lourenço.

Mafalda Brito nasceu em Leiria e licenciou-se em História de Arte. Colaborou com o centro de arte moderna da Fundação Calouste Gulbenkian.

Rui Pedro Lourenço nasceu em Leiria, estudou pintura no Ar,Co em Lisboa. Trabalhou em jornais e livrarias. Dedicou-se à ilustração. Em 2012, Mafalda Brito e Rui Pedro Lourenço criaram a editora Barca do Inferno.

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Helena Almeida nasce em Lisboa em 1934 e vive no mundo da arte desde sempre. Estuda pintura na Escola Superior de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e, depois de uns anos dedicada à família, parte para Paris com uma bolsa da Fundação Gulbenkian. Representou Portugal nas bienais em São Paulo (1979), duas vezes em Veneza (1982 e 2004) e ainda em Sidney (2004).

Amadeo de Souza Cardoso nasceu em Manhufe, Amarante, em 1887. Em 1905 parte para Lisboa com a intenção de seguir o curso de Arquitetura, viajando, no ano seguinte, para Paris. A cultura parisiense afasta-o da Arquitetura e dedica-se ao desenho e à pintura. Em 1916, Amadeu promove, primeiro no Porto e depois em Lisboa, duas exposições individuais onde reúne o seu trabalho. Estas mostras são recebidas com hostilidade e desconfiança pelo público que não estava preparado para aprender e apreciar as propostas modernistas. Amadeo morre em Espinho, em 1918, vítima de epidemia pneumónica.

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Julia Martins

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