Aranhas, centopeias, sombras de pássaros gigantes, árvores que parecem cruzes de cemitério, livros a instantes de se transformarem em cinzas, casas com chaminés de ar triste, soldados dispostos como manequins obedientes, aviões em tráfego aéreo atravessando um céu cinzento.
É assim que José Jorge Letria, de braço dado com as ilustrações de André Letria, introduz “A Guerra” (Pato Lógico, 2018) aos mais jovens, num livro habitado pelo negrume e frases como “A guerra tem todos os rostos da maldade que impõe“, terminando com um silêncio que, ao invés de ser de ouro, nada mais traz do que a implacabilidade da morte.
As ilustrações respiram o ar carregado dos tempos de conflito, dominadas pelo cinzento e o preto, o branco pálido e um amarelo que já conheceu melhores dias. Se W.G. Sebald se tivesse dedicado a escrever e ilustrar livros para crianças, muito provavelmente ter-nos-ia oferecido um livro assim: poético, apontado à memória e à falta dela, e que mostra a decadência da civilização. Não será certamente para ler antes da descida ao mundo dos sonhos, mas é definitivamente um livro ilustrado que oferece um olhar certeiro e muito negro sobre a tragédia das guerras.
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