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Vodafone Paredes de Coura 2018: há um novo King no pedaço e chama-se Marlon Williams

Por Pedro Miguel Silva · Em 16/08/2018

Já se sabe que a dor de coração ou de corno, de tempos a tempos, costuma resultar em rodelas capazes de entrar no lugar de honra das melhores enciclopédias musicais. Foi assim com Marlon Williams, um rapaz muito bem-parecido – gastronomicamente falando, será um pão – que levou com os pés da namorada e assinou “Make Way For Love”, disco que lhe valeu uma estreia em formato triplo em Portugal, a primeira no final da tarde de ontem no Vodafone Paredes de Coura – que continua a ser o mais belo cenário a receber um festival musical.

Nascido na Nova Zelândia, Marlon move-se entre sonoridades country, soul, folk e pop, embrulhando tudo isto de forma exemplar em papel com motivos indie. Os onze temas de “Make Way for Love”, disco visitado pelo fantasma de Elvis, a fibra de Richard Hawley e a alma de Chris Isaak, são canções onde o compositor descreve o fim de uma relação amorosa e todos os sentimentos que daí surgem: o desejo em “Come to Me”, a vingança em “I Didn’t Make a Plan”, a saudade em “Can I Call You?” ou a aceitação em “Nobody Gets What They Want Anymore”, belíssimo tema em que participa Aldous Harding – precisamente a menina que fez o coração de Marlon em estilhaços.

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O concerto teve início com Marlon, sozinho à guitarra, a cantar uma versão de “The First Time Ever I Saw Your Face”, canção folk de 1957 escrita pelo britânico Ewan MacColl – alguém com uma valente costela política – para Peggy Seeger, que à data era sua amante e que, mais tarde, se tornaria sua mulher. Um tema que ficou celebrizado pela voz de Robert Flack em 1972, e que aqui serviu para Marlon aquecer as cordas vocais, medir o ambiente e lançar os primeiros piscares de olho: “É a minha primeira vez em Portugal. Adoro mesmo isto, obrigado“. Ele que, horas antes, havia andado a dar mergulhos com os festivaleiros.

Após mais uma descida à praia fluvial do Taboão a bordo de “Come To Me”, entramos no centro de acolhimento de menores para conhecer essa “Dark Child”, onde a certa altura Marlon abre (mal) uma lata de cerveja, faz um brinde, dá um gole que se transforma em espuma suficiente para fazer a barba de uma semana e, não desarmando, serve-nos um show de anca que faria Elvis contorcer-se de inveja, solando de seguida como gente grande. Um tema que se vestiu de medley e que casou com “I’m Lost Without You”, onde há gestos teatrais arrancados a uma encenação na relva de “Romeu e Julieta”.

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“Party Boy” chega com uma caixa de ritmos fora de órbita, valendo um recomeço e a um dos The Yarra Benders, banda que acompanha Marlon na sua tour, uma valente entrada e um delirante encerramento em falsete, antes de mais um cover onde se fala do amor infinito, de portas deixadas abertas e de se ser levado ao colo e para longe – e onde Marlon protagonizou um cena que poderia ser descrita como Glee para adultos.

Um dos grandes momentos chegou com “Vampire Again”, “uma canção sobre estar preso em LA, demasiado pedrado para sair e ver pessoas e mesmo assim fazê-lo“. Segue-se a muito irónica “Nobody Gets What They Want Anymore”, onde Harding dizia cantando a Marlon qualquer coisa como “temos pena“. Harding que, segundo Marlon, “tem muita coisa para fazer“, razão para que o dueto fosse transformado num sentido monólogo amoroso, e que serviu de embalo para “Make Way For Love”, o mantra de Williams que poderia ser gravado numa T-Shirt ou num azulejo.

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Marlon aproveita para confirmar a sua admiração pelo fado, confessando que nos últimos dias andou a ouvi-lo quase em loop. Algo que muitos já haviam pressentido em “When I Was a Young Girl”, canção que Marlon diz ter quase cem anos e que Marlon parece ter recriado com toda a alma portuguesa.

“Obrigado por esta primeira vez, foi muito divertido“, diz antes de acender o cigarro e de encerrar com mais uma cover onde se falou em pintar corações e do azul como a cor do amor, cantando ao despique e à distância  do microfone, dando um show de dança como se fosse o melhor aluno de “Fame” e descendo às grades para o convívio, tudo para voltar a subir e terminar com um rugido capaz de engolir o mundo. Será cedo para falarmos deste como o melhor concerto desta edição do Paredes de Coura? Querido Marlon, voltaremos a ver-nos no Gente Sentada.

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Ainda espreitámos a viagem intemporal da Orquestra dos Lagartos ou, como consta do cartaz, dos King Gizzard and The Lizard Wizard, que tanto vai beber ao psicadelismo e ao rock pedrado dos anos setenta como ao metal épico e de espírito medieval dos Manowar. Uma secção rítmica impecável, um vocalista a que só lhe faltou o boné para uma reprise cénica dos AC/DC e um guitarrista que só pedia escuridão para que as projecções no ecrã batessem como cogumelos mágicos, foram suficientes para uma hora de emoções com muita mescalina à mistura. E, claro, uma molhada em grande estilo.

Quanto aos The Blaze, praticantes de uma dance music entre os carrinhos de choque gourmet e uma festa de piscina para os lados de Ibiza, pareceram chegar numa nave espacial quadrada, de onde iam saindo projecções visuais quase sempre com instintos piromaníacos – o que, em Agosto e,em Portugal, mais parece uma ingénua provocação. Deu para abanar a anca e testar, nas muitas elevações de Coura, a forma física e o teor alcoólico. A festa segue mais logo.

 

Fotos: Hugo Lima/Vodafone Paredes de Coura

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Pedro Miguel Silva

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