Na década de 50 do século XX, Sylvia Plath rumou, sinuosa, entre a confirmação do seu génio e a depressão profunda. Além de reconhecidos como os anos que inspiraram “A Campânula de Vidro” (Assírio & Alvim – The Bell Jar no original), são os anos da Universidade de Smith e do casamento com Ted Hughes. Passa, igualmente, por uma dissertação sobre o papel do duplo na produção literária de Dostoievski, pela passagem na Mademoiselle Magazine e conta, por fim, com o toque medievo – adjectivo utilizado por Plath – da terapia de choque.
Começa os estudos na Universidade de Smith em 1950, chegada como aluna de mérito através da Olive Higgins Prouty Scholarship. Mantém-se activa em inúmeras actividades extra-curriculares, particularmente na imprensa, colaborando com o Daily Hampshire Gazette e o Springfield Daily News. No contexto Smith, torna-se editora da Smith Review (a revista literária da faculdade), bem como do Campus Cat – publicação humorística. Vê poemas seus publicados na Harper’s Magazine e outros tantos poemas e contos na Seventeen Magazine. A Universidade de Smith trata-a sempre bem: atribui-lhe dois prémios, reconhecendo-a como poeta por excelência.
No verão de 1953, Plath é uma das vinte pessoas convidadas para exercer funções de editor na Mademoiselle Magazine. Fica de imediato insatisfeita quando descobre que o seu trabalho será supervisionado por Cyrilly Abels, editora, um decréscimo indesejado de liberdade criativa.
Chegada ao fim de Junho, Plath está à beira de um colapso. Pouco se sabe acerca da causa última que a terá levado a preferir a morte, mas analisando partes d’ “A Campânula de Vidro” como reais ou no mínimo verossímeis, é de crer que Plath não lidou bem com os círculos nova-iorquinos de riqueza, poder e glamour. Se tanto, deterioravam a sua auto-estima, até então suportada pelo seu trabalho como aluna exímia e poeta/contista promissora. Talvez aquilo que se passa a 20 de Junho – data em que conheceu José Antonio La Vias – tenha sido determinante. No seu diário, descreve-o como “cruel” e a partir de “Marco”, personagem d’ “A Campânula de Vidro”, tudo leva a crer que Plath fora vítima de uma (tentativa de) violação.
Em Julho, começam os tratamentos de choque, na esperança que a condição depressiva atenue. Após cada tratamento, a mãe de Plath descreve o estado da filha como “sem vida” e sem quaisquer características reconhecíveis. É em Agosto que se tenta suicidar através de uma overdose de comprimidos, passando os seis meses seguintes no Hospital McLean. Da passagem de Plath pela revista sediada em Nova Iorque é célebre a sua descrição da cidade e a vida que levara: “dor, festas, trabalho”.
Cerca de um mês depois da publicação d’ “A Campânula de Vidro”, o primeiro e único romance lançado sob o pseudónimo Victoria Lucas, Sylvia Plath põe fim à vida. Estamos no início de 1963 e a autora fizera 30 anos em Outubro do ano anterior. O romance fora fruto de dois anos de trabalho incessante e um divórcio com Ted Hughes.
Plath reside num pequeno apartamento em Londres. Trabalhando sob mecenato, a crítica que recebe daqueles que a subsistem é mordaz: “A Campânula de Vidro” desaponta com a escrita amadora e excessivamente fervorosa. Não têm como saber que Plath assina um romance que espelhará geração após geração. Que será traduzido em várias línguas. Que, passados cinquenta anos e pouco mais, é lido.
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