“Um de Nós Mente” (Gailivro, 2018) é a estreia absoluta de Karen M. McManus, um thriller que escolheu um cenário diverso do habitual – uma escola secundária norte- americana – e que abdicou do herói habitual – o inspector/ comissário geralmente amargurado e com vários conflitos interiores a massacrarem-lhe a existência -, para dar a voz a quatro finalistas do secundário: Bronwyn, Cooper, Nate e Ade, cada um deles vestindo um estereótipo clássico – a aluna exemplar, o herói desportista, o delinquente “outsider” e a menina bonita e fútil.
A vida comum da escola é perturbada por Simon, aluno e autor da Má- Língua, uma aplicação que revela segredos e pormenores da vida privada dos seus colegas, tendo um efeito imediato, devastador e até trágico na vida de alguns deles, ilustrando bem o impacto das redes sociais no presente.
A morte de Simon, em circunstâncias muito estranhas – quando se encontrava com os quatro colegas numa sala de estudo, após a aplicação de um castigo por posse de um telemóvel -, dá origem a uma investigação policial tradicional, onde é evidente o impacto das desigualdades sociais no sistema judicial mas, também, a existência de uma nova frente de julgamento: os media, a exploração sem limites das notícias, as redes sociais, os likes.
O que em primeira linha poderá parecer ser a trajectória para a resolução do mistério de uma morte, tem na verdade mais camadas do que um mil-folhas: os dilemas/problemas dos jovens ainda com um pé na adolescência – a necessidade de aprovação, os grupos, a imagem pessoal -, o impacto das redes sociais, a falta de controlo entre o privado e o público. E, sem dúvida, a camada mais deliciosa, aquela que nos mostra a construção e a queda dos estereótipos, a luta interior de cada um dos jovens, o sofrimento mas, acima de tudo, a possibilidade de mudança, a descoberta e o alívio do poder da afirmação.
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