“Certa vez, deixou de fazer vento e uma nuvem instalou-se no céu, mesmo por cima de uma estrada.”
É este o ponto de partida para “A Nuvem” (Pato Lógico, 2018), livro com texto de Rita Canas Mendes e ilustrações de João Fazenda, que nos contam uma história sobre “um caminho de algodão por cima do alcatrão“.
Primeiro, apenas as crianças parecem notar este estranho fenómeno, mas aos poucos a nuvem torna-se um motivo de interesse nacional, estudado ao detalhe por meteorologistas, abrindo os telejornais de todas as estações, sendo acesamente debatido por especialistas “disto e daquilo“, que vão lançando várias hipóteses para esta nuvem que “não subia, nem descia, não evaporava nem chovia“: um milagre, simplesmente poluição ou um claro prenúncio de uma catástrofe?
Com um falso fundamento meteorológico, “A Nuvem” é um livro sobre os tempos modernos da admiração fácil e quase sempre passageira, da indignação constante, do empolgamento de pouco gás, onde o mais insonso acontecimento ganha honras de primeira página e arrancares de cabelo quase sempre virtuais. É que, por vezes, uma nuvem não passa disso mesmo: de uma nuvem.
Graficamente, o livro decorre por inteiro no mesmo plano horizontal, dominado por cores fortes em que o azul é predominante e onde as expressões humanas, do riso à fúria, são retratadas de forma exemplar. Fazenda style.
Sem Comentários