“Todos possuímos um monstro dentro de nós, a quem só falta dar um empurrão (às vezes apenas um empurrãozinho) para sair e desatar a devorar o mundo.”
O desaparecimento de um menino, no meio do bulício de uma tarde de compras num centro comercial, dá o mote para o thriller psicológico “Não Sou um Monstro” (Planeta, 2018). No início estamos na mente do predador que escolhe, fria e cuidadosamente, a sua presa. Depois, trocamos de pele entre a inspectora-chefe responsável pela investigação, e a amiga jornalista, responsável por dar a notícia.
A história retrata como, em apenas trinta segundos, a vida se pode transformar num pesadelo, o pior para qualquer mãe ou pai. O caso torna-se ainda mais complexo e perturbador quando sabemos que, dois anos antes, uma criança havia sido raptada nesse mesmo local.
Tudo parece agora acontecer de forma idêntica, com o pesadelo a repetir-se. Depois de Kike e Nicolás, investigações que continuam por resolver, surge agora um mesmo tipo de menino, com parecenças físicas e a mesma idade, desaparecido no mesmo local. Terá ‘Slender Man’, como o haviam apelidado, voltado a atacar? Uma questão que irá acompanhar o leitor do início ao fim do livro.
“Não Sou um Monstro” é o livro de estreia da jornalista Carme Chaparro, um dos rostos mais conhecidos dos noticiários espanhóis. A autora retrata não só o lado do deslumbrante mediatismo da profissão mas, também, as pressões políticas e as fugas de informação propiciadoras ao tão ambicionado ‘furo’, explorando a relação entre fontes, jornalistas e investigação policial.
Carme Chaparro aposta em duas personagens femininas determinadas, que convivem com outras igualmente interessantes, todas levadas ao limite perante a dor e o desespero de perder, ou de ver perder, um filho. Mas também o leitor será levado ao limite ao longo das cerca de 325 páginas, dificilmente conseguindo antever o final. Mesmo que no início a trama se desenrole de forma mais lenta, dando a conhecer a vida das personagens e os seus comportamentos, rapidamente entra num ritmo vertiginoso à medida que vão surgindo provas e volte-faces na investigação. O melhor de tudo está reservado para o fim, com um desfecho verdadeiramente surpreendente e arrebatador.
Carme Chaparro consegue criar ansiedade no leitor para a revelação final — marcada pelo auxílio de um projecto inovador real, o neuroQWERTY —, com vários momentos de tensão pelo meio, numa narrativa bem estruturada que vai alternando as visões das personagens.
“Não Sou um Monstro” tornou-se um best-seller em Espanha, onde vendeu mais de 80 mil exemplares e, em breve, irá chegar ao grande ecrã. A autora prepara-se agora para lançar a segunda parte do livro, cuja acção decorre seis meses após o final do primeiro.
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