Há que confessar que um filme sobre um jovem Han Solo, para um dos novos filmes stand alone do Star Wars que a Disney anda a fazer nos anos de intervalo da sua nova trilogia, parecia uma boa ideia. Afinal de contas, Solo é o improvável herói da trilogia original, o cínico trafulha/contrabandista que rouba os filmes para si e que todos queríamos ser quando crescêssemos. No entanto, também há que confessar que o facto de terem trocado de realizador a meio nos deixava algo apreensivos. Especialmente quando foram buscar, para substituir Phil Lord e Chris Miller, o rei da boçalidade, Sua Majestade Ron Howard. Não é que seja mau realizador, mas também não há propriamente nada na sua filmografia que excite por aí além.
Havia em “Han Solo: Uma História de Star Wars”, a título de exemplo, duas coisas que e não podiam ser contornadas e que todo o fã da série salivava de antecipação: primeiro, o famoso jogo de cartas entre Solo e Lando Calrissian, que valeu ao primeiro a sua nave Millenium Falcon. Ron Howard sabe-o, vê-se que até tenta fazer desse um momento especial, mas sai tudo com tanta deferência que mais não é do que um tiro de pólvora seca; o mesmo acontece praticamente com o segundo momento tão ansiado, o encontro entre Han Solo e Chewbacca. Não existe nada aqui que envergonhe o franchise – se bem que o momento em que Solo fala hookie esteja quase a consegui-lo -, mas também é certo que não existe nada de verdadeiramente memorável.
“Han Solo: Uma História de Star Wars” cumpre a natureza da sua personagem principal e monta um filme de aventuras no espaço, reminiscente das matinés de Errol Flynn, meio western meio heist movie, não se limitando à masturbação digital do CGI. Mas, no final, não é mais do que a enésima variação do blockbuster actual, com duas horas e tal de duração que podiam muito bem ser compactadas em hora e meia.
Alden Ehrenreich nunca faz esquecer Harrison Ford (se bem que tinha em mãos uma empreitada hercúlea, para não dizer impossível), Donald Glover (na pele de Lando) pedia mais tempo de cena, C3PO e Arturito não aparecem pela primeira vez num dos filmes da saga, L3 é a andróide de serviço mas mais valia não ser, e há um piscar de olho subtil a “O Império Contra-Ataca”, com Lando a dizer a Solo “I hate you” e este a responder-lhe “I know”. E há, também, Warwick Davis a reaparecer em toda a sua glória, lembrando-nos que, em tempos (ou, pelo menos, até ao sucesso de Game of Thrones), fora o melhor actor de sempre a fazer de anão.
Artigo publicado originalmente em Royale With Cheese
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