É de 2003 a primeira versão em língua portuguesa da “Odisseia” de Homero, que chegou às livrarias com o selo da Cotovia. Uma edição sem notas que, para Frederico Lourenço, gerou até aos dias de hoje “um fluxo imparável de cartas e de e-mails de gente a quem isso teria feito imensa falta” (ou dado um jeito tremendo).
Uma sensação de dever meio cumprido cujo ponto final é dado agora, quinze anos depois e com grande aparato, numa nova edição da “Odisseia” (Quetzal, 2018), que tem notas suficientes para encher uma pochette: “Cada canto da Odisseia está agora apetrechado de um aparato de notas e de comentários, que visa esclarecer, em primeiro lugar, a estrutura narrativa do poema, mas também problemas de teor linguístico e geográfico, assim como a inter-relação da Odisseia com a Ilíada“, escreve o tradutor.
Este terá sido, logo a seguir à Bíblia – e em paralelo com As Mil e Uma Noites -, o livro que mais influência exerceu ao longo dos tempos no imaginário ocidental. Um fascínio adensado com o mito urbano de Homero poder ter sido, na verdade, uma entidade constituída por dois poetas. Ou, talvez, por Homero e um outro que conhecia a sua Ilíada de uma ponta à outra e que não quis ficar atrás.
Trata-se de uma jornada épica que retrata o regresso a casa de Odisseu, uma figura sofredora que, apesar do negrume interior, vai desfrutando dos prazeres da aventura. Alguém que, segundo o tradutor, é “um herói mais humano, mais perto de nós que o colérico e sanguinário Aquiles, ou que o poderoso e cumpridor Eneias“.
Não faltam aqui momentos épicos, como a teia lançada por Penélope, as tentadoras sereias, o ciclope antropófago, Cília e Caríbdis, o saque de Tróia à boleia de um cavalo de madeira, a magia de Circe, o amor louco de Calipso ou a doçura de Nausícaa. Se procuram um livro épico com um travo a fantástico, “Odisseia” é uma das melhores coisas que vos irá passar alguma vez pelas mãos.
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