Num processo de globalização galopante, nos últimos anos fomos totalmente invadidos por um fenómeno de festivais de massas, que marcam o panorama nacional durante todo o Verão. Todo o Verão? Todo o ano, será melhor dizer. Longe vão os tempos em que estes eram uma novidade, que se contavam pelos dedos de uma mão e em que aguardávamos impacientemente pelo anúncio dos alinhamentos para saber quem viria cá tocar.
Agora, os festivais multiplicaram-se como cogumelos e já é raro o projecto internacional que não inclua Portugal nas suas digressões. Por isso, o mais difícil agora até é escolher qual o festival a ir. Primeiro, porque na maioria das vezes o preço dos bilhetes não permite ir a mais do que um. E segundo porque, sejamos sinceros, com tanto festival por aí, é preciso encher muito chouriço com demasiadas bandas que não interessam nem ao menino Jesus. E quem quer dar mais de 100 euros por um bilhete para um festival em que não nos interessam metade dos nomes no cartaz?
Olhamos para os que já anunciados e tentamos decidir o que fazer das nossas vidas este ano. Partindo do pressuposto que ainda há bilhetes para todos (e isso é mentira, porque existem já vários dias esgotados em diferentes certames), a decisão que se impõe é: gastar uma centena de euros para ir aquele festival que detestamos, mas em que vai uma banda que realmente queremos ver; fazer algumas centenas de quilómetros (e gastar outra centena de euros) para ir ao festival que gostamos muito, mas que este ano não tem nenhum nome no alinhamento que nos deixe propriamente excitados; ou perder o amor ao rico dinheirinho e tentar ir apenas a dias isolados de diferentes festivais, para ver aqueles projectos que não devemos deixar passar este verão?
Pois bem, a nossa resposta é: nenhuma das opções acima. E se vos dissermos que há uma outra, que permite resolver todos os dilemas acima, poupar dinheiro e ainda descobrir coisas novas? A única coisa é que essa solução comporta duas notícias, uma boa e uma má. A má é que têm que ir à Croácia. A boa é que têm que ir à Croácia.
Chama-se INmusic e, este ano, celebra a sua décima edição. Decorre em plena capital croata e este ano tem um cartaz que não pode deixar ninguém indiferente, compilando o que de melhor vamos ver nos festivais de verão portugueses. E o mais interessante ainda é que o preço do bilhete para os três dias de Junho em que decorre – de 25 a 27 – é praticamente metade da maioria dos certames nacionais. Por isso, se começarem logo a descartar esta opção pelo preço da viagem até Zagreb, lembrem-se que, muitas vezes, ir até Paredes de Coura, à Zambujeira ou mesmo de Lisboa ao Porto, com gasolinas e portagens incluídas, é capaz de ficar ela por ela.
Além disso, há ainda o extra de visitar Zagreb e descobrir uma das capitais europeias mais excitantes da actualidade. Afinal de contas, a Croácia não é só Dubrovnik, esse bastião do turismo de massas, que o Game of Thrones massificou ainda mais. Portanto, porque não juntar o útil ao agradável e fazer, de uma assentada, umas férias musicais?
E o que há no INmusic para se ver este ano? Ora bem, além dos habituais projectos locais, que certamente servirão para mostrar a muito boa gente que a música popular dos Balcãs não é só o Emir Kusturica, os Dubioza Kolektiv ou até mesmo o Goran Bregovic, encontramos os melhores cabeças de cartaz dos cabeças de cartaz do panorama musical nacional deste verão.
Em vez de ir ao NOS Primavera Sound ao Porto ver o Nick Cave and the Bad Seeds, poderá vê-los no INmusic. Depois de não terem vindo a Portugal durante a digressão do ano passado, naquela que foi a maior falha do calendário de concertos nacionais de 2017 – numa tour que, além da polémica pela data em Israel, fez correr muitos elogios da crítica e do público -, passar 2018 sem ver o ex-Birthday Party pode mesmo ser considerado um crime de lesa-majestade. Por isso, não queiram correr riscos…
“Ah e tal, eu nem gosto muito de jazz“, pode ser uma daquelas desculpas esfarrapadas que utilizamos para não ir ao EDP Cool Jazz. No entanto, isso faz com que não vejamos o David Byrne, que anda na estrada a apresentar o seu novo “American Utopia”. E se esse trabalho é um discão do caraças, não menos incríveis são os espectáculos ao vivo do escocês. Toda a gente continua a lembrar-se do “Stop Making Sense”, não é?
Queres ir ver os Queens of the Stone Age mas o bilhete para o NOS Alive já está esgotado? Não temais, jovem fã do Josh Homme. Os QOTSA vão levar o seu último “Villains”, o disco do ano passado, ao INmusic. E no mesmo palco estarão também os Alice in Chains ou os Portugal, the Man, outras das bandas que interessam no alinhamento deste ano do Alive. Fica a faltar o Jack White para a receita ser perfeita…
Não há o ex-líder dos White Stripes mas não faz mal – até porque ninguém quer ouvir o seu último disco (if you know what I mean…). Em compensação, encontramos no alinhamento do INmusic alguns nomes bem conhecidos dos nossos palcos, que não nos importamos nada de reencontrar. A saber: os The Kills, que estiveram em Portugal no mesmo NOS Alive em 2017; Bombino, o maior guitarrista do mundo (marca registada!), que vimos pela primeira vez no Festival Músicas do Mundo e a última no Vodafone Mexefest; ou St. Vincent, que não vemos no nosso país desde 2014 e que nos fez a desfeita de ter cancelado a sua passagem por cá quando andava a promover o disco com o David Byrne. Ah, e não esquecer a versatilidade punk/hardcore de Frank Carter & the Rattlesnakes, que há não muito tempo esteve em Lisboa a abrir para Biffy Clyro.
Por isso, se se sentem frustrados com a vossa vida e com as dezenas de festivais de Verão do calendário musical nacional, aqui fica a nossa sugestão: que tal replanearem as vossas férias, juntarem o útil ao agradável e irem até ao INmusic?
Foto de capa: Julien Duval
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