Kendrick Lamar continua em altas. Depois de ter ajudado hip hop a ultrapassar o rock como o género musical mais ouvido e celebrado na actualidade, criando um disco – To Pimp a Butterfly – que vai servindo de alimento a aulas universitárias, debates filosóficos ou conversas de rua ou café, o artista norte-americano acaba de conquistar o Pullitzer musical com “DAMN.”, o seu quarto longa-duração que foi descrito pelo júri como “uma colecção virtuosa de canções unificada pela sua autenticidade vernacular e dinamismo rítmico que providencia vinhetas que capturam a complexidade da vida afro-americana moderna”. Como se não bastasse toda esta loucura, o músico foi convidado para ser o curador da banda-sonora do filme “Pantera Negra”, mais uma adaptação cinéfila ao universo dos comics, transformando aquilo que provavelmente seria um álbum desconexo num disco que consegue sobreviver longe da tela.
Para dar corpo a esta história musical que ilustra a história e a luta de um povo pela sua afirmação, carregada de lendas, mitos não urbanos e uma dose extra de espiritualidade e violência, Kendrick foi buscar um elenco de luxo, a que se juntaram alguns desconhecidos: se, por um lado, temos the Weeknd, Vince Staples ou Anderson.Paak, há também Mozzy, Babes Wodumo, SOB x RBE ou Sjava, a artista sul-africana que canta – e encanta – em Zulu.
Do ponto de vista comercial e mediático, as despesas ficam entregues às colaborações com SZA – “All the Stars” – e the Weeknd – “Pray for Me” -, mas basta ouvir o tema de entrada onde como em To Pimp a Butterfly, Kendrick desempenha o papel de pregador/contador de histórias por entre uma cortina jazzística, para percebermos que mora aqui mais do que um conjunto de hits desconexos, condenados a desaparecerem no momento em que os créditos finais descerem e as luzes da sala se acenderem.
Momentos altos serão, talvez, “I Am”, uma balada onde Jorja Smith se faz ouvir por trás uma batida que poderia ter sido emprestada por uns Massive Attack; “King`s Dead”, com tantas variações musicais que mais parece uma sessão de fogo-de-artifício: “Bloody Waters”, onde depois da introdução de James Blake as despesas poéticas ficam entregues a Anderson.Paak; o melancólico “Seasons”, que se divide entre o inglês e o zulu e nos traz o calor da voz de Sjava; ou o inquieto “Opps”, tema que poderia rodar numa pista de carrinhos de choque e no qual Vince Staples leva um tremendo baile de Yugen Blakrok, uma MC de Joanesburgo que dá todo o ar de andar nisto desde que anda de fraldas.
Ainda que, visto à lupa, este seja um disco bem mais polido e menos surpreendente que os seus registos a solo, “Black Panther” é mais um capítulo da ascensão de Kendrick Lamar ao patamar dos heróis, que aqui veste com honra o fato de King T’Challa e enche de orgulho a nação de Wakanda.
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