Chama-se “Life is Long”, o álbum que o português Rodrigo Leão compôs em conjunto com o australiano Scott Mathew em 2016. Os dois músicos andam a promovê-lo há cerca de ano e meio e, na passada quinta-feira, foi a vez de passarem pelo Grande Auditório do CCB, para um dos últimos concertos da tournée. Um espectáculo com uma aura de consagração, dado que Rodrigo Leão está prestes a celebrar 25 anos de carreira (como, aliás, o próprio CCB).
O português fez parte dos Sétima Legião e dos Madredeus, tendo começado a compor no início dos já longínquos anos 90, fortemente influenciado pela música minimalista de Michael Nyman e Philip Glass. Tornou-se entretanto um valor seguro da música instrumental e não só: a elegância e maleabilidade da sua música já o levaram a trabalhar com um rol de nomes destacados da cena internacional onde encontramos, por exemplo, Ryuichi Sakamoto, Neil Hannon dos Divine Comedy ou Beth Gibbons dos Portishead. Mas na noite de 22 de Março o protagonismo foi todo para a relação de cumplicidade entre Rodrigo Leão e Scott Mathew.
Passava pouco das 21 horas quando, perante um Grande Auditório a rebentar pelas costuras, surgiram no palco enevoado cinco músicos liderados por Rodrigo Leão e, após uma melodiosa intro instrumental, eis que surge o sexto elemento,Scott Mathew, que abriu as hostilidades com a muito pop “Enemies”. Seguiu-se uma música minimal e delicada, intitulada “The Child”, onde Scott cantou acompanhado apenas pelas teclas. Estes dois temas representaram muito bem as duas facetas do disco: uma música vulnerável, comovente e dramática, que se reveste depois, em muitos momentos, de uma vibrante energia pop.
Aos poucos foram desfilando as pérolas de “Life is Long”, enquanto Rodrigo e Scott iam trocando de instrumentos: o australiano com uma bela guitarra cor de sangue, o português alternando entre as teclas e o baixo. “The Fallen” deu destaque ao virtuosismo da violinista Viviena Tupikova, a brilhar a grande altura (como em todo o concerto). O fabuloso “That’s Life” apontou o foco ao trombone de Marco Alves, que emprestou uma gravidade ao tema que lhe assentou como uma luva.
A meio do concerto Scott saiu de cena, dando lugar a dois entusiásticos instrumentais, com o destaque a ir todo para a secção rítmica: o baixo funky de Rodrigo Leão a conjugar-se na perfeição com a portentosa bateria de Frederico Gracias, com a preciosa ajuda da guitarra de João Eleutério. Regressa o australiano ao palco para cantar primeiro “In The End” e, depois, “Unnatural Disaster”. Esta última foi um dos melhores momentos da noite – uma interpretação apaixonada, de grande intensidade, sublinhada por um jogo de luzes vermelhas que elevou a temperatura da sala.
A voz de Scott Mathew é um achado: umas vezes lembra Elvis Costello, outras resvala para terrenos de Mark Eitzel, outras ainda evoca o espírito de Bowie. Contém uma vulnerabilidade e uma energia que se revezam conforme as necessidades da música, de forma exemplar.
Foi a vez de ficar só o australiano em palco, para tocar à guitarra uma música inédita do seu próximo álbum a solo, “Ode to Others”, com saída prevista para 20 de Abril.
Com alguns “pregos” na guitarra pelo meio, o músico, com a sua simpatia e boa onda, foi facilmente perdoado pelo público, e conseguiu a proeza de pôr toda a gente a cantar, com uma versão acústica de “I Wanna Dance With Somebody”, de Whitney Houston.
A noite prosseguiu com a passagem por mais um instrumental – uma versão de “Lonely Carroussel” -, num diálogo muito bem conseguido entre violino e trombone. Seguiu-se a primeira música que Scott e Rodrigo compuseram juntos – “Terrible Dawn” -, momento jazzy de grande elegância e, enfim, o tema que dá nome ao álbum – “Life is Long” -, mais um ponto alto do espectáculo.
Após dois encores, o concerto terminou com uma versão despida de “That’s Life”, marcando a despedida perante um público completamente rendido – ouviram-se vários gritos de “Bravo” vindos da audiência, sem dúvida merecidos.
Fotos de Luís Miguel Andrade (espreitar galeria fotográfica)
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