Com experiências na área do jornalismo e na criação de argumentos cinematográficos e guionismo (já venceu seis Prémios Goya, os Óscares do cinema espanhol), David Trueba chegou pela primeira vez às livrarias nacionais há cerca de cinco anos com “Saber perder”, mas seria “Aberto toda a noite” que colocaria o espanhol no rol dos mais interessantes (novos) escritores vindos da vizinha Espanha.
Com o mais recente “Quatro Amigos” (Alfaguara, 2014) Trueba conta-nos as peripécias de quatro companheiros que sentem o fecho da juventude e querem celebrar esse ciclo. A forma que encontram para o fazer assume o perfil de uma viagem que significa deixar para trás trabalhos, famílias e problemas, improvisando uma road trip por terras de Espanha onde se entregam, em forma de derradeira redenção, aos excessos adolescentes com muito álcool e mulheres à mistura.
Assim, Solo, Blas, Raúl e Caudio partem à aventura e comprovam que as etapas da vida são finitas e que o passado é um polícia da alma que não se coíbe de passar as devidas coimas à alma, ainda que tais multas possam misturar gargalhadas com lágrimas.
À medida que se galgam quilómetros, são feitas confissões, acusações, revelam-se traições, sente-se a verdade alheia. No fundo, os quatro amigos vão ao fundo de si mesmos, descobrindo que a vida tem de ser vivida da melhor forma possível, ainda que as lições daí retiradas possam cauterizar processos e experiências acumuladas ao longo dos anos.
Tal como já havia feito em “Saber Perder” e “Aberto toda a Noite”, David Trueba revela uma capacidade agridoce de relatar uma idade aqui entendida como o final de um período de vida – vulgarmente referida como juventude, com ou sem aspas. A frustração sublinha e gere uma narrativa que se foca nas dores de um crescimento (por vezes forçado) e numa espécie de linha contrastante entre um lado mais romântico e laivos de uma peculiar análise entre a comédia, a ternura e o rancor.
Ainda que no seu todo “Quatro Amigos” seja um romance interessante, não deixa de ter, por vezes, uma abordagem algo superficial, especialmente no que toca a alguma falta de profundidade do perfil dos personagens (e do próprio enredo) mas que, ainda assim, consegue fazer emergir momentos de certa pertinência, nomeadamente resultantes dos confrontos/conflitos entre Solo, Blas, Raúl e Caudio, dando azo ao entendimento de definições como a felicidade e, paradoxalmente, o medo que tal pode provocar.
Comparativamente com o que fez em, por exemplo, “Aberto toda a noite”, David Trueba não consegue fazer do humor uma arma que sustente a narrativa, optando por uma abordagem simplicista e por vezes desinteressante da mesma em detrimento de uma apropriação perto do lado mais negro.
Infelizmente, “Quatro Amigos” não consegue descolar o leitor de uma história banal que versa sobre a amizade entre quatro camaradas imaturos que decidem viajar juntos, sem destino, em uma carrinha a tresandar a queijo e que têm, no devaneio sexual com o maior número de mulheres possível, o seu grande objectivo.
Fazendo uso da metáfora cinematográfica, tão cara a Trueba, a mais recente obra do espanhol está mais próxima de um ambiente de filmes para o universo (pós)teenager do que de uma abordagem dramática de um ritual de passagem (de idade).
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