“Uma breve e geral introdução e conversa da treta”. É desta forma que Kieron Gillen classifica o prefácio que abre as portas a “O Acto de Fausto” (G. Floy, 2017), título do primeiro volume de “The Wicked + The Divine”, uma banda desenhada habitada por deuses armados em estrelas pop que promete ser uma das grandes séries deste ano.
Para Gillen, tratou-se de uma “tentativa de transformar os dois anos mais confusos e difíceis da minha vida numa canção pop”, num livro para o qual alguns poderão olhar como sendo um gémeo de “Phonogram”, interrogando-se por que razão não é este o terceiro volume da série ao invés de um primeiro de uma nova. A razão apontada por Gillen é a de que este novo livro habita o território da fantasia, prometendo recuar até aos deuses da Renascença. E, se “Phonogram” olhava para os consumidores, “The Wicked + The Divine” centra-se antes no acto criativo e em quem o produz. “Sabemos qual é o fim mas estamos a anos dele”, remata Gillen num dos prefácios mais marados que nos foram dados a ler em séries de BD.
Mas de que trata, então, “The Wicked + The Divine”? A sinopse reza mais ou menos assim: “A cada noventa anos, doze deuses aceitam reencarnar em forma humana. São carismáticos, amados e odiados. Arrastam multidões e levam-nas ao êxtase, falam em línguas estranhas, e os rumores afirmam que são capazes de milagres. Salvam vidas, de maneira metafórica e real. E morrem passados dois anos”.
O sentido de humor é uma constante, como a própria definição desta estranha ideia de imortalidade: “Lá por seres imortal, não quer dizer que vivas para sempre”. Neste fantástico livro inaugural damos de caras com uma jornalista descrente, ouvimos estalares de dedos que provocam explosões atómicas controladas e somos apresentados às belas e perigosas Valquírias.
Neste mundo vive também Laura, a narradora e protagonista, uma adolescente de dezassete anos que não dispensa conflitos e inseguranças. Num concerto de uma cantora que em duas semanas passou de uma anónima do duche a uma estrela maior do que Beyoncé, todos os espectadores desmaiam, sendo Laura a última a ficar inconsciente. Quando acorda conhece Lúcifer, uma mulher de olhos azuis com um muito estiloso fato branco. A partir daí Laura será uma espécie de groupie, vendo-se atirada para um mundo onde há assassinatos, conspirações e milagres a acontecer a cada esquina.
O primeiro volume centra as atenções em Lúcifer, uma mulher bonita, inteligente e carismática, numa sociedade onde o amor e o ódio estão separados por uma linha muito ténue.
A arte de Jamie McKelvie, a que se juntam as cores de Matt Wilson e Dee Cunniffe, está muito bem trabalhada, fazendo muitas vezes lembrar a colorida pop art de Andy Warhol. Cada um dos deuses recebe um tratamento personalizado, tanto em termos da narrativa como do próprio desenho. Muito prometedora esta série, cujo segundo volume irá chegar às livrarias este ano.
Inclui:
“The Wicked + The Divine” Vol.1 (2014): The Faust Act #1-5 — Argumento: Kieron Gillen;
Arte: Jamie McKelvie; Cores: Matthew Wilson e Dee Cunniffe; Letras: Travis Lanham
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