Henrik “HP” Pettersson libertou-se finalmente do centro nevrálgico do Jogo de Realidade Alternativa e, agora, encontra-se na Suécia na posse de várias identidades falsas e com dinheiro suficiente para conseguir uma vida confortável. Apesar de o remorso de ter abandonado a irmã não deixar de o perseguir, ele sabe que apenas assim ambos estarão a salvo.
A fortuna acumulada é uma almofada confortável depois de uma terrível experiência, mas HP não está satisfeito. Afinal, a clandestinidade não é tão estimulante na vida real como nos filmes.
Para dar algum alento a sua vida, HP decide viajar para o Médio Oriente em busca de alguma adrenalina. No Dubai conhece a enigmática, sensual e rica Anna Argos e a vida ganha um novo colorido. Ainda assim, há algo em Anna que levanta suspeitas, principalmente no que diz respeito ao seu telefone.
Rebecca está agora mais tranquila, mas a vida teima em não encaixar. Foi promovida, a sua vida amorosa sorri mas algo não está bem. Tudo se complica ainda mais depois de explorar um fórum na Internet, onde conhece um detective que escreve histórias ameaçadoras sobre a sua pessoa.
Num ápice, o cerco aperta-se, fecha-se, sobre Rebecca e HP, surgem muitas dúvidas e o medo assombra. Afinal, qual a diferença entre a realidade e o sonho? Em que e em quem se pode confiar? Como podemos defender-nos de uma ameaça silenciosa, sem rosto ou motivo?
Sinónimo de uma leitura viciante – quem leu “O Jogo”, sabe o que falamos – “Vibração” (Bertrand Editora, 2014) é a sequela perfeita. A narrativa está construída sob grandes doses de uma tensão multidisciplinar e formal e o frenesim típico de um thriller anda à solta nas páginas do livro de Anders De La Motte.
Se “O Jogo” conduz o leitor por uma trama cujo enredo está repleto de conflitos de ordem pessoal e ética, “Vibração” assume-se como uma espécie de orientação narrativa que permite assimilar, compreender e absorver todos os acontecimentos que assolam as vidas de HP e Rebecca.
Essa contextualização leva-nos, por exemplo, a captar algo do que se passa na mente de HP, um mero pião de um jogo que, afinal, não se centrava na sua pessoa, mas que pode ser ele a única peça que pode quebrar a engrenagem de uma oleada máquina maquiavélica que mais uma vez coloca o dedo na ferida em questões tão fraturantes como o poder e a (extrema) dependência das tecnologias, assim como o decisivo rombo na privacidade de que tal é sinónimo.
Uma vez mais, o autor sueco apimenta os pensamentos de HP com uma especial expressividade, algo que assenta cada vez melhor no personagem e na sua construção, que vai viver momentos de enorme tensão emotiva e sensual. No fundo, “Vibração” confirma uma extrema (e positiva) dependência face a um personagem pouco consensual como HP e aguça ainda mais os fãs da trilogia para o próximo e decisivo volume.
Com um argumento longe da “linear” trama de um policial nórdico, “Vibração” vai apaixonar quem gostou de “O Jogo” e faz crescer ainda mais a ideia de que algumas obras deviam ser editadas em simultâneo, ou quase, pois enquanto se espera pela conclusão da trilogia vamos deixar de ter unhas para roer ou cabelos para arrancar.
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