Um ano depois de João Pedro Rodrigues ter feito uma gracinha no festival de Locarno com o seu “O Ornitólogo”, o cinema português voltou a estar em destaque no festival suíço. Cristina Hanes trouxe para casa o Leopardo de Ouro referente às curtas-metragens, com o seu “António e Catarina”, enquanto o debutante Pedro Cabeleira recebia uma menção especial para este “Verão Danado“.
“Verão Danado” é então uma espécie de filme comunitário, que Pedro Cabeleira fez com os colegas de escola mal acabou o curso de Cinema, não passando pela tradicional curta iniciática. Portanto, “Verão Danado” é a típica primeira-obra: um filme cheio de sangue na guelra e de vontade de se fazer cinema, por um realizador que acaba de chegar e está cheio de ganas de experimentar, mostrar e fazer. E, tal como na grande parte desses caso, o filme acaba sempre por pecar mais por excesso do que por sobriedade.Neste caso, o excesso é de uns 20 minutos a mais que, sem os quais não se perdia nada e ganhava-se em força e em ritmo.
“Verão Danado” é um teen movie sobre as férias de verão de um grupo de jovens por entre festas, álcool, drogas e sexo e amor. No fundo, pode-se dizer que é uma espécie de “Miúdos” em versão portuguesa, mas sem o sensacionalismo de Larry Clark. No filme de Pedro Cabeleira sentimo-nos como se fizéssemos parte daquela trupe de jovens e estivéssemos mesmo com eles nas festas, em vez de sermos os voyeuristas sinistros de “Miúdos” (sim, caso não tenham percebido, não nutro de amores pelo filme do Larry Clark).
Tal como a própria juventude, “Verão Danado” é um filme hedonista, com os excessos da juventude. A forma como o filme se imiscua junto desses adolescentes, tornando-se mais um deles, faz lembrar outro filme português que também fez sucesso em Locarno, o poema-punk de Hugo Vieira da Silva “Body Rice”. Contudo, enquanto esse era um filme com um contexto muito específico – o Alentejo, as raves, a desertificação (tanto a do interior como a da alma)… -, este é um filme que pode passar-se em qualquer lado e, portanto, a identificação é bem maior.
No entanto, como o bom filme hedonista que é, “Verão Danado” perde-se na sua busca pelo prazer. Um amigo, que gostou bem mais do filme do que eu, disse-me que era porque não fui a afters suficientes. Talvez seja. Ou então porque não busco com força suficiente o bem supremo da vida e do prazer.
Pedro Soares escreve no recomendado Royal With Cheese.
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