Uma perseguição desenfreada na auto-estrada, um tímido pedido de desculpas e um salto temporal até seis semanas antes. É desta forma que tem início “O amigo andaluz” (Porto Editora, 2014), o primeiro volume da trilogia Brinkmann que, para não variar, nos chega do frio.
Porém, ao contrário do cenário habitual dos policiais nórdicos, Alexander Soderberg constrói um romance intrincado – a lista inicial com as personagens será uma mais-valia durante a leitura do livro – que leva o leitor ao mundo do tráfico de armas e droga, onde impera a fragilidade humana.
A personagem central dá pelo nome de Sophie Brinkmann, uma enfermeira – e também viúva – que goza de uma vida tranquila nos subúrbios de Estocolmo. Pelo menos até ao dia em que conhece Hector Guzman, um homem que prima pela sofisticação e elegância, e que vê em Sophie a companheira ideal. Porém, para lá do charme, Hector é o cabecilha de uma poderosa organização criminosa, habituado a conseguir todos os fins a que se propõe independentemente dos meios.
Para lá do gangue com sotaque espanhol encabeçado por Hector, há ainda o poderoso clã alemão liderado por Ralph Hanke, que pretende tirar a Hector o protagonismo, tanto no mundo legal dos contratos e empreitadas como nos muitos negócios ilícitos e esquemas manhosos. Pelo meio ainda se passeiam alguns criminosos russos, que mudam de lado consoante o pagamento oferecido.
Quando um grupo especial descobre que Sophie caiu nas boas graças de Hector, esta vê-se de repente enredada numa implacável teia, com a casa sob escuta, a família em risco e a incerteza de saber, entre o gang de Hector e as forças policiais, em quem deve de facto confiar.
Tenso e muito complexo, “O amigo andaluz” é um thriller literário com uma boa dose de cinefilia, que consegue subverter o perfil moral das personagens à medida que as páginas se vão virando.
Sem Comentários