Será instintivo regressar a 2006 e ouvir “Yellow House”, disco que há mais de dez anos terá catapultado os Grizzly Bear para o conhecimento planetário e verificar quão grande foi a progressão da banda até aqui. Isto não descurando a expectativa gerada em redor de cada lançamento de um disco da banda, onde ninguém esconde o aflorar da curiosidade que a efeméride suscita correlacionando a sonoridade com uma história já composta por cinco discos de originais.
Em “Painted Ruins” (RCA Records, 2017), a coerência sonora manifesta-se na utilização de orquestrações criadas nos anos 60, recuperando uma fórmula inventada pelos Beach Boys – inspiração que permanece como uma sombra sobre as suas melodias. No entanto, a banda não se contentou em ser mais um intérprete de ramificação tradicional folk, aperfeiçoando a sonoridade sem gerar mutações que pusessem em causa a sua identidade sonora.
O registo é composto por temas que flutuam entre a libertação e um sentimento interior de culpa, levados a tomar direcções aleatórias – uma consequência da complexidade dos arranjos de que são alvo. “Painted Ruins” nunca poderia ser adjectivado como música ambiente mas, no entanto, o som expande-se simetricamente pelo espaço com a intenção de o ocupar, caso de “Aquarian” – uma peça tensa e disforme.
O ponto alto do disco situa-se na segunda faixa, “Mourning Sound”, talvez a melhor canção do ano, um hino ao nível de “Two Weeks” (de regresso a 2009 em “Veckatimest”) que confere um cariz pop ao disco: uma canção de percussão, abraçada e coadjuvada por sintetizadores. Em suma, Grizzly Bear em estado puro, não escondendo um amadurecimento próprio de experiência acumulada que lhes conferiu autoridade para transgredir as raízes da folk, chegando ao campo progressista onde a bateria ganha mais volume e densidade e protege a orquestração dos teclados. Para já, está afastada a hipótese de uma metamorfose.
Sem Comentários