Vencedor do Prémio PEN/Hemingway para melhor estreia literária e finalista do Man Booker Prize, “O meu nome era Eileen” (Alfaguara, 2017) é o romance de estreia de Ottessa Moshfegh, escritora e romancista americana, filha de mãe croata e pai iraniano.
“Eu era como a Joana d’Arc, ou o Hamlet, mas nascida na vida errada – a vida de um zé-ninguém, um renegado, invisível. Não há melhor maneira de o dizer: naquele tempo, eu não era eu. Era outra pessoa. Era a Eileen.”
Eileen Dunlop é uma rapariga modesta e perturbada, com uma rotina diária que alterna entre a ida para um emprego enfadonho, passado à secretária de um instituto de correcção de menores, e o cuidar de um pai alcoólico, que a trata de forma vilanesca.
O seu mundo interior, inalcançável para quem a observa do exterior, é de puro negrume, divertindo-se a fantasiar sobre o dia em que vai fugir para uma cidade grande. Enquanto isso vai-se entretendo a roubar artigos em lojas de roupa e conveniência, imaginando-se enrolada com Randy, um guarda do reformatório com corpinho de homem e cérebro de rapaz.
Quando Rebecca Saint John, uma ruiva vistosa, alegre, inteligente e estilosamente espalhafatosa entra na sua vida, Eileen respira essa amizade como se fosse o oxigénio que a prende à vida, até se ver metida numa alhada da qual já não poderá regressar.
Nesta história, contada na primeira pessoa por Eileen cinco décadas depois do seu desaparecimento, há negrume, obsessões, olhares e malevolência suficientes para pensarmos que temos aqui uma autora que passeia de queixo erguido por terrenos já antes pisados por Flannery O’Connor. A escrita é surpreendente, bem como a narradora criada por Ottessa, que confunde, ilude e nos faz sentir pena da sua inadaptação perante o mundo.
Um livro fascinante que leva o leitor para o centro de um pântano, feito de areias movediças, tendo também ele de operar uma transformação de modo a regressar são e salvo de uma literatura que é abençoadamente retorcida. Fiquem de olho em Ottessa Moshfegh, isto promete e muito.
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