Se decidíssemos elaborar uma lista dos maiores medos da gente pequena, fazendo uma sondagem em escolas e parques infantis, provavelmente encontraríamos algumas respostas comuns: aranhas, pessoas e situações estranhas, fazer xixi na cama e, no topo da lista, a escuridão.
Como muitas outras crianças, o Lucas tinha um medo incrível do escuro, sempre agarrado à sua pequena lanterna. O pequeno herói de “O escuro” (Orfeu Negro, 2014), álbum escrito por Lemony Snicket e ilustrado magnificamente por Jon Klassen, vivia numa casa grande, daquelas que tinha um telhado que rangia, janelas frias e lisas e muitos lanços de escada.
Na casa de Lucas, o escuro parecia esconder-se em todo o lado: no armário da roupa, atrás das cortinas do chuveiro, mas era na cave que passava a maior parte do tempo, aguardando pela noite, altura em que saía e se espalhava pelas portas e janelas para regressar apenas quando a manhã começava a espreitar.
O Lucas costumava visitar o escuro no quarto dele, pensando que, talvez assim, o escuro não se incomodasse com visitar o seu, não se dando ao trabalho de subir uma montanha de escadas. Até que, uma noite, ele apareceu, dizendo a Lucas, na sua voz de escuro, que tinha uma coisa para lhe mostrar. Ainda que tremendo de forma descontrolada, Lucas decide seguir o escuro até à cave, sem saber se estará a ser conduzido para uma terrível armadilha.
Fazendo juz à sua fama de contador de histórias pouco convencional, Snicket propõe aos mais novos que enfrentem um dos seus grandes medos, através de um mergulho num conto à moda de Poe que surge aqui reforçado por ilustrações que jogam de forma sublime com a dicotomia claro/escuro. Uma lição de claridade para os mais pequenos que, ainda assim, não irão dispensar uma luz de presença. Uma das grandes edições de 2014.
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