Portas, chaves e livros são objectos que se repetem e cruzam nos nove contos do livro “O Que não É Teu não É Teu” (Elsinore, 2016), de Helen Oyeyemi. O leitor segue um labirinto onde os caminhos possíveis parecem terminar em realidades impossíveis, mas mais verossímeis para as personagens, que parecem estar em jogo para uma transformação pessoal. No entanto, o seu heroísmo salta de protagonista em protagonista, sem se fixar.
No primeiro conto, Livros e rosas, temos a história de uma bebé abandonada numa igreja, com uma chave ao pescoço que vai encaixar numa livraria antiga. Em Pedir desculpa não lhe adoça o chá acompanhamos a mutação de uma fã adolescente quando descobre que Matias Fust, o seu cantor favorito, espancou uma mulher. Vemos o mundo pelos olhos das marionetas em O teu sangue é assim tão vermelho?, e seguimos a odisseia de uma mulher que, num passeio, encontra o lobo mau em Dornička e a pata do dia de S. Martinho. Bibliotecas antigas, vídeos do youtube, patos com vontade própria, casais com vidas paralelas e uma sociedade de jovens feias são palco dos restantes contos. No final permanece a dúvida que abre um dos contos, Isto aconteceu e não aconteceu, que retrata também o realismo mágico de Helen Oyeyemi.
Apesar dos 34 anos, a autora nigeriana Oyeyemi publicou já cinco romances, o primeiro, “The Icarus Girl”, editado enquanto ainda estava na faculdade. Em 2013 foi considerada pela Granta uma das melhores jovens romancistas britânicas. “O Que não É Teu não É Teu”, é o seu primeiro livro de contos,vencedor do PEN Open Book Award, prémio que promove a diversidade racial e étnica na comunidade literária. Em Portugal, e também com o selo da Elsinore, será editado o romance “Boy, Snow, Bird”.
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