Hollywood sempre tirou bom proveito das inúmeras figuras criminosas que pululam o universo Americano. A sua transformação em ícones de TV ou cinema passou a ser parte de um certo tipo de cultura pop, em que os mafiosos são personagens românticas e carismáticas.
Philip Leonetti, o mafioso que esteve na origem deste “Príncipe da máfia” (Vogais, 2014) – com o sub-título uma história real de sangue, violência, poder e traição -, não pensaria certamente no romantismo ou em arte quando espetava um balázio na cabeça de alguém, ou espancava um ser humano até á morte. Era simplesmente a sua vida, aquilo que foi ensinado a fazer, o meio onde aprendeu a arte difícil da sobrevivência.
Nesta obra não se fazem juízos de valor: é quase como uma auto-biografia, a história de um dos sub-chefes mais violentos e duradouros numa instituição criminosa como a “Cosa Nostra”. A ascensão de Nicky Scarfo – ou “little Nicky” como era conhecido -, relatada pela figura que o acompanhou lado-a-lado durante anos, o seu braço direito. Aquele que, depois, acabaria por o entregar às autoridades, terminando o seu longo reinado.
Leoneti (ou Crazy Phil) foi “adoptado” pelo tio, Nicodemo Scarfo, após abandono paterno. Scarfo reinou durante cerca de duas décadas sobre Filadélfia e Atlantic City, não se apoiando propriamente nos meios mais ortodoxos para o fazer. As vinganças, ou os assassínios por simples deleite pessoal, eram muitas vezes entregues àquele em quem mais confiava, o seu sobrinho Crazy Phil.
Após quase duas décadas fulgorosas, Philip Leoneti acabaria por desertar, no seguimento de sucessivas prisões de companheiros de crime e da sua própria. Mais uma vez, o instinto de sobrevivência falou mais alto e, em vez de se contentar em fechar a boca e ser encarcerado até ao fim dos seus dias, optou por destruir toda uma organização com os seus depoimentos. Tudo por uma liberdade eternamente condicional.
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