Quando os veteranos Depeche Mode surgiram, na década de 80, a música pop era na sua maior parte oca e vazia – produto típico da sociedade altamente consumista da época. Havia uma profusão de aves raras como Chris de Burgh, Rick Astley ou os Europe e, contra a corrente, os Depeche Mode provaram que a pop electrónica podia ser sofisticada, complexa e expressiva e, ainda assim, atingir um enorme sucesso comercial.
A sua música sempre foi apelativa, mas nunca fútil: aborda temas como a obsessão, a sexualidade, dúvida e fé, dor e arrependimento, dependência e suicídio. Tudo assente numa maquinaria sonora, sombria e sensual, de onde brotam elementos de rock, blues e música industrial.
Ao longo da carreira exploraram o seu mundo interior com uma visão dois ou três tons mais escura do que a da corporativa máquina pop, mas mantiveram-se sempre amarrados a ela. Fizeram do sacrílego “Personal Jesus” um hino de estádio – todos temos a frase “Reach out and touch faith” implantada firmemente nas sinapses – e infectaram as pistas de dança globais por décadas com “Master and Servant”, música sobre o sadomasoquismo. Os seus temas exibem feridas e cicatrizes, e não se coíbem de as analisar ao pormenor, até rasgar a pele.
No início dos anos 90, as digressões dos Depeche Mode ficariam na história pelo festival de excessos e deboche. No entanto, a disfuncional banda ultrapassou fricções internas e dependências várias para se afirmar como uma das mais lucrativas máquinas de concertos da música actual. Na sua tournée de 2013, a Delta Machine Tour, tocaram para perto de 2.4 milhões de pessoas em 32 países.
Chegados a 2017, poderíamos pensar que estariam em modo greatest hits, virados para o passado glorioso e a viver dos rendimentos do seu impressionante catálogo. Não é o caso, como se pode comprovar pelo último álbum “Spirit” (Columbia, 2017). Dave Gahan, Martin Gore e Andy Fletcher continuam a evoluir sonicamente e, desta feita, associaram-se ao produtor James Ford, membro dos Simian Mobile Disco, para lançar um conjunto de canções pulsantes e ácidas, intimamente ligadas aos tempos conturbados em que vivemos. “We’re going backwards”, canta o reptiliano Dave Gahan no início do disco – mas nós não acreditamos, os Depeche Mode ainda têm muito caminho pela frente.
No próximo dia 8 de Julho, a banda vem a Portugal tocar no NOS Alive, no âmbito da Global Spirit Tour, trazendo o novo disco na bagagem. Será, garantidamente, um concerto a não perder.
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