Depois de uma aposta ganha em clássicos da literatura, biografias de tragédias e romances refrescantes chegados um pouco de todo o mundo, a Elsinore estreia-se agora na publicação da literatura portuguesa com “A Avó e a Neve Russa” (Elsinore, 2917), o segundo romance escrito por João Reis.
Apesar de andar pelas 32 primaveras – mais coisa, menos coisa -, a ligação de João Reis à literatura vem de longe. Licenciado em Filosofia, foi editor da Eucleia Editora, que fundou, de 2010 a 2012. É actualmente tradutor literário, especialista em línguas nórdicas, tendo traduzido para português autores como Knut Hamsun, Halldór Laxness, August Strindberg ou Patrick White. Entre 2012 e 2015 trabalhou e residiu na Noruega, Suécia e Inglaterra, onde exerceu várias profissões. “A Avó e a Neve Russa” foi escrito no decurso de uma residência literária em Montreal, Canadá, realizada em 2015. Nesse mesmo ano foi finalista do Bare Fiction Prize na categoria de flash fiction e publicou a sua novela “A Noiva do Tradutor”, publicado pela Companhia das Ilhas.
“Aqui, no Canadá, não a fizeram engolir ventos atómicos“. Quem o diz é o jovem narrador de dez anos a propósito de Babushka, a avó que ficou com os pulmões destruídos após o desastre de Chernobil, e de quem o pequeno narrador e o irmão mais velho – que adora o “fumo medicinal” – vão cuidando, sabendo que, se esta morrer, acabarão entregues – pelo menos o mais novo – aos serviços sociais ou a uma qualquer família de acolhimento.
Quando recebe em casa uma carta do hospital, remetida pelo serviço de oncologia do hospital, a criança começa a desconfiar da medicina moderna e do que esta poderá fazer para reparar os pulmões da avó, uma vez que não percebe como alguém poderá ficar melhor desenhando pássaros – confusão com ornitologia. Começa assim uma demanda por medicinas alternativas, desde os santos portugueses aos unguentos chineses, resultando numa épica aventura em busca do cacto mexicano.
João Reis leva o leitor ver o mundo através dos olhos de uma criança – uma “alma velha” segundo Babushka -, ela que, como herdeira de familiares “antigo-soviéticos” e dotada de um “vasto vocabulário“, atirou com o comunismo às urtigas para abraçar o bendito capitalismo. Um romance feito de sentimento e um curioso sentido de humor e que é, também, um livro sobre a inocência e a sua perda.
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