Pensem em Agatha Christie, Raymond Chandler, Conan Doyle ou em tudo aquilo que a ideia de policial clássico vos inspira. Por muito que o negrume se instalasse, parecia haver uma linha imaginária impressa nas páginas que impedia que a história atingisse o ponto do mau gosto, da manipulação pela manipulação ou, decididamente, se atrevesse a cruzar a fronteira da ética. Pois bem, os nórdicos – sobretudo eles – atiraram com tudo isso às urtigas, numa espécie de vale tudo onde as criancinhas morrem ou são abusadas, os corpos são tratados como gado e outras atrocidades são cometidas, tudo em nome de uma trama que faça gelar os ossos do leitor.
“O Homem Ausente” (Suma de Letras, 2017), o terceiro livro da série Sebastian Bergman, começa desde logo com uma descoberta que dificilmente entraria nos planos de uma Agatha Christie: seis corpos – ou melhor, seis esqueletos -, entre os quais os de duas crianças, são encontrados numa ladeira das montanhas de Jamtland, na Suécia, enterrados há muito tempo.
O cerebral Sebastian Bergman viaja então com a equipa do Departamento de Investigação Criminal para as montanhas, o que para ele serve na perfeição. Para além de poder passar algum tempo com a filha Vanja, é também uma forma de escapar à sua agora ex-namorada, a quem deixou as coisas numa mala à porta de casa tendo tido o cuidado de mudar a fechadura.
À medida que o livro vai avançando, a dupla Hjort & Rosenfeldt serve ao leitor um thriller que envolve alguma espionagem e muito encobrimento governamental, mas por muita velocidade que imprima não chega nunca à bem urdida trama dos dois primeiros volumes. Quanto ao final, servido à moda de um George R. R. Martin, parece ter decidido compensar o argumento morno com uma dose e meia de evitável crueldade.
Sem Comentários