A concorrência era de peso mas, no final, foi a neo-zelandesa Eleanor Catton a levar para casa o Man Booker Prize 2013, entrando para a história da competição como a mais nova vencedora, com apenas 28 anos de idade.
“Os luminares” (Bertrand Editora, 2014) é um daqueles romances que escondem várias armadilhas, cabendo ao leitor evitá-las de modo a conseguir recolher as muitas peças que lhe vão sendo atiradas e que, no final, mostrarão um desenho arrojado e surpreendente, na linha narrativa dos romances vitorianos. A mestria de Catton está em copiar na perfeição o esquema vitoriano para, mais tarde, o dinamitar sem dó nem piedade, oferecendo ao leitor um misto de thriller e romance histórico.
Estamos a 27 de Janeiro do ano de 1866, na cidade neo-zelandeza de Hokitika. Walter Moody acaba de desembarcar do navio Godspeed, proveniente de Inglaterra, com o sonho de tomar parte na corrida ao ouro. Abalado com a estranha visão de ter visto um fantasma a bordo, hospeda-se no Crown Hotel, onde depois de encostar a bagagem decide rumar ao bar do Hotel para uma reconfortante bebida. Quando entra numa sala onde doze homens se reúnem – cena que evoca de certa forma o cinematográfico “12 Angry Men” -, percebe que mergulhou por engano – e descuido alheio – numa espécie de reunião secreta, em que participa um leque incomum de indivíduos, desde um banqueiro a um traficante de ópio.
Depois de descobrirem em Moody um confidente e possível árbitro e juiz, cada um dos homens irá relatar a sua versão dos estranhos acontecimentos que tiveram lugar nas redondezas nas duas semanas anteriores: a morte de um garimpeiro numa cabana isolada, que tanto parece ter de natural como de criminosa; o desmaio e prisão de Anna Wetherall, uma prostituta, com uma overdose de ópio; o desaparecimento de um dos mais influentes e ricos homens da região; a descoberta de uma pequena fortuna em ouro; a muito suspeita venda de um lote de terra que nada tem para oferecer.
Por muito que as opiniões possam divergir, todos os homens parecem ter uma certeza em comum: Francis Carver, o comandante do Godspeed – o barco em que Moody viajou -, é um vilão e muito perigoso homem.
Ao longo de uma narrativa que promove avanços e recuos no tempo assistimos a uma corrida ao ouro, ao tráfico de ópio, à prostituição de luxo e à expiação do passado de cada um dos homens fechados numa sala de hotel, iluminados por referências astrológicas que parecem ter nas mãos o destino de cada uma das personagens. Quanto ao leitor, cabe-lhe a missão de deslindar o grande mistério que se lhe apresenta, num livro muito ambicioso que tem, na ganância humana, a grande fonte de alimento.
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