De entre os títulos que nos vieram parar às mãos em 2016, escolhemos 20 mil folhas internacionais com creme de comer e chorar por mais.
1. “O Czar do Amor e do Tecno” | Anthony Marra
Editora: Teorema
“Com “O Czar do Amor e do Tecno”, Anthony Marra escreveu uma sinfonia a todos aqueles que pereceram pela mão de um regime impiedoso, mas fá-lo trocando o registo factual pela vertigem da arte. Mesmo nos momentos mais devastadores, Marra consegue imprimir uma beleza sem limites, ao mesmo tempo que devolve à História todos os nomes que lhe foram apagados. Corajoso, original e muito engenhoso, “O Czar do Amor e do Tecno” mostra que a América tem mais uma voz literária universal que deverá ser seguida de muito perto. Livro do ano e está tudo dito.” (Ler crítica)
2. “O Luto é a Coisa com Penas” | Max Porter
Editora: Elsinore
“O seu trunfo e triunfo é o claro menosprezo da banalização dos sentimentos que nos unem, em favor do saudável “desrespeito” pelo que de mais duro a vida nos reserva: o recomeço depois da hecatombe do nada, que se impõe perante as ausências definitivas e irreparáveis. Indispensável é um eufemismo.” (Ler crítica)
3. “Manual Para Mulheres de Limpeza” | Lucia Berlin
Editora: Alfaguara
“Tudo no mundo serve de paleta cromática à escrita e ao humor de Lucia Berlin, seja comparar o despir da roupa dos outros com a escrita de Mishima – “Enervante, por levar tanto tempo, como em Mishima, onde tirar o quimono da senhora demora três páginas” – ou usar, como combustível criativo e confessional, o dia-a-dia de uma alcoólica que tem de trabalhar e cuidar de filhos pequenos.” (Ler crítica)
4. “A factura” |Jonas Karlsson
Editora: Alfaguara
“O processo é de confronto com a capacidade que cada indivíduo tem e que advém da sua aptidão de efectuar escolhas e acreditar em resultados positivos. Determinismo ou existencialismo? O desafio de perspectivas existe sendo que, provavelmente, encontraremos um pouco de ambas numa ocorrência aparentemente real, sentida como incompreensível e até bizarra. Os ingredientes indispensáveis para uma boa leitura são evidentes: um foco narrativo que não se restringe apenas ao verosímil, que prende e faz pensar, mantendo acesa a centelha da leitura até à última frase.” (Ler crítica)
5. “Oreo” | Fran Ross
Editora: Antígona
“Segundo Harryette Mullen, que em 2000 trouxe de novo “Oreo” ao público americano, Ross é uma das escritoras cujo trabalho foi inovador entre as mulheres afro-americanas. Demasiado inovador para o seu tempo. A publicação foi um blip no radar rapidamente desaparecido. A pouca receptividade do mesmo na altura deveu-se, segundo Mullen, ao facto do livro satirizar quer a cultura afro-americana quer a cultura judaica, podendo ter sido ofensivo para os seus leitores. Um livro entusiasmante, divertido. Um jogo sobre e com a linguagem que merece muitos blips.” (Ler crítica)
6. “Zero K” | Don DeLillo
Editora: Sextante
“Livro que contém em si centenas de perguntas – são incontáveis os pontos de interrogação -, “Zero K” vai até ao fundo da alma humana para nos falar do passado e do futuro da humanidade, num tempo cada vez mais tecnológico. Um romance que nos faz pensar no legado que deixamos, na nobreza da morte, do nosso próprio e efémero zumbido terrestre. Tudo acompanhado pelas grandes tragédias modernas, como o terrorismo ou as catástrofes naturais.”
7. “O meu nome é Lucy Barton” | Elizabeth Strout
Editora: Alfaguara
“A escrita navega magicamente entre um diário de uma adolescente e as profundezas do mais íntimo da alma humana, num livro essencial que nos mostra o lado mais cruel do amor. E que é, essencialmente, um retrato da literatura enquanto salvação e ferida, um acto de se ser implacável, uma forma de superação individual.” (Ler crítica)
8. “Um Copo de Cólera” | Raduan Nassar
Editora: Companhia das Letras
“Nesta obra, tudo tresanda a desejo e sedução, mas também carne e sangue, suor e tesão, ataque e defesa, uma verdadeira batalha física, moral, intelectual, onde todos saem feridos e não há vencedores nem vencidos. Talvez nós, leitores, vençamos no final, brindados com o uso singular e certeiro do português aberto e luminoso do outro lado do Atlântico que, graças aos deuses, foi mantido sem adaptações aos nossos vocábulos fechados e expressões cujo formalismo quase teatral seria totalmente descabido neste contexto.” (Ler crítica)
9. “A Cova” | Cynan Jones
Editora: Cavalo de Ferro
“Enquanto o homem grande é alguém cujo espírito resiliente salta para fora das páginas, Daniel recorda uma versão mais romântica de Bjartur, essa personagem emblemática desenhada por Halldór Laxness no magistral “Gente Independente” (também com edição pela Cavalo de Ferro), de quem “A Cova” arrancou uma pequena costela – uma outra terá sido arrancada a Cormac McCarthy, numa escrita que tem deste os mesmos parágrafos curtos e uma forma cínica, clínica e despojada de servir uma violência de todo o tamanho ao leitor.” (Ler crítica)
10. “Lavoura Arcaica” | Raduan Nassar
Editora: Companhia das Letras
“Um dos melhores livros do ano pela demonstração inegável de que nem sempre o volume significa verdadeiro desafio. Uma escrita densa, povoada de mística, referências bíblicas e uma sentimentalidade feroz e indomada, encarnada na pessoa do jovem André. Reinterpretação da parábola do filho pródigo, dessacraliza-a e trá-la para um ambiente duro e bucólico, onde a autoridade e a severidade de um pai e a conivência de uma família tradicional, são incapazes de domar a liberdade do amor inconvencional de André pela irmã Ana, assim como a sua muito peculiar mundividência. Um triunfo literário de que nenhum leitor sai incólume e, por si só, vale o Camões e qualquer prémio literário digno desse nome.”
11. “Paraíso” | Tatiana Salem Levy
Editora: Tinta da China
“Tatiana Salem Levy conseguiu criar, com todo o seu talento, uma mulher forte e uma protagonista cativante. Se, no início da história, é o medo e a insegurança que tomam conta de Ana, ao longo do livro vemos a transformação de uma mulher capaz de enfrentar os tormentos do seu passado, sem medo de se descobrir a si própria através das palavras, da natureza, de lápis de carvão e do amor. ” (Ler crítica)
12. “As primeiras quinze vidas de Harry August” | Claire North
Editora: Saída de Emergência
“Muitos são os livros que, no domínio da ficção científica, se têm divertido a brincar com as viagens no tempo, e a forma como estas poderão alterar irremediavelmente o passado – um pouco ao estilo de Regresso ao Futuro. Em tempos recentes, porém, poucos livros chegarão aos calcanhares de “As primeiras quinze vidas de Harry August”, o primeiro romance de ficção científica assinado por Claire North.” (Ler crítica)
13. “Kallocaína” | Karin Boye
Editora: Antígona
“Nestes estranhos tempos modernos, onde o terrorismo entrou de rompante no quotidiano, a Inglaterra fez um manguito à Europa e um perigoso idiota se arrisca a ser presidente de um império, “Kallocaína” é um livro de leitura obrigatória, que mostra que uma sociedade pintada de negro e avessa ao pensamento livre já esteve bem mais longe do mundo como o conhecemos – e já mais instalada noutros cantos da terra.” (Ler crítica)
14. “A Resistência” | Julián Fuks
Editora: Companhia das Letras
“Julián Fuks revela, neste livro, uma capacidade de descrever a tensão e o conflito interiores com grande comoção e uma profunda libertação, conseguindo, com mestria, intercalar vivências íntimas e factos históricos.” (Ler crítica)
15. “Pequenos Vigaristas” | Gillian Flynn
Editora: Bertrand
“No universo cruzado dos thrillers e dos policiais, são muitas as propostas numa concorrência que, de tão apertada, já chegou ao ponto do nó cego. Porém, se quisermos eleger de entre os muitos autores e autoras alguém que misture um olhar de lince para a imperfeição humana, um sexto sentido para expor a crueldade, um humor carregado de ironia e apontamentos sexuais e uma lata de todo o tamanho, a lista acabará facilmente com um nome único na página: Gillian Flynn.” (Ler crítica)
16. “O Herói das Eras – Parte II” | Brandon Sanderson
Editora: Saída de Emergência
“Com o fim próximo, este é o livro onde as personagens se deixam levar pela melancolia, olhando para todos aqueles que tombaram e o muito caminho trilhado em nome de uma revolução. Essa é, aliás, uma das características que distingue esta série de, por exemplo, a escrita por Martin. Enquanto cada uma das mortes em Martin é celebrada como um acontecimento, com fogo-de-artifício e piras gigantescas, aqui o luto faz-se de forma contida e, quando a saga termina e se faz um elogio aos mortos, é como se a demanda de anos passasse em segundos pelos olhos do leitor, feliz por ter acompanhado esta saga que mistura tratados políticos, livros de super-heróis, jornadas pessoais e o desejo do bem comum.” (Ler crítica)
17. “Cheio de Vida” | John Fante
Editora: Alfaguara
“Centrando-se em questões religiosas e familiares, John Fante constrói um romance humano e comovente, carregado de sentido de humor, ironia e um toque de absurdo, imerso num constante torpor alcoólico. Não tendo tido o devido reconhecimento em vida, é tempo agora de fazer o merecido elogio e homenagem a John Fante.” (Ler crítica)
18. “À Beira da Água” | Paul Bowles
Editora: Quetzal
“Em 29 contos, que percorrem uma linha temporal situada entre 1946 e 1964, encontramos muitos dos cenários que compõem os seus romances: crime, drogas, enganos, perigos, uma geografia que pulsa e consegue provocar um eco cinéfilo aos olhos do leitor. No ar há uma constante tensão, uma espera pelo instante em que o drama surge, muitas vezes de forma cruel e perversa. Perversidade que é, aliás, outro sentimento que envolve a escrita de Bowles, embrulhada numa escrita concisa, melancólica e sempre poética.” (Ler crítica)
19. “Uma Rapariga é Uma Coisa Inacabada” | Eimear McBride
Editora: Elsinore
“… a linguagem é uma coisa inacabada e o sucesso de “Uma Rapariga é Uma Coisa Inacabada” começa exactamente por aí, pela linguagem. Faz lembrar um fluxo incontrolável de pensamentos, uma segunda consciência que parece querer tomar conta de tudo. Uma verborreia mais rápida do que o raciocínio ou a lógica. É a linguagem do coração que Eimear McBride captura, dando-nos a conhecer a essência do ser da protagonista sem nome que luta contra tudo e contra todos, principalmente contra a educação cristã irlandesa que lhe corre nas veias e lhe corrói a consciência.” (Ler crítica)
20. “O Filho Dourado” | Pierce Brown
Editora: Presença
“Em “O Filho Dourado”, Pierce Brown leva o nível de entretenimento para um patamar superior. Se “Alvorada Vermelha” serviu para mostrar o mundo e a sociedade através de um jogo literário semelhante a uma construção de Lego, “O Filho Dourado” destrói tudo isto com muito estilo e malvadez.” (Ler crítica)
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