«Um dos mais movimentados e arrebatadores livros de acção que jamais se escreveram.» É desta forma empolgada que o escritor Mário Carvalho descreve “A retirada dos dez mil” (Bertrand Editora, 2014), da autoria do grego Xenofonte, que viveu entre 430 e 354 a.C.
O livro, que gira à volta de uma violenta tentativa de usurpação, relata as atribulações de um exército helénico em retirada, após o final das Guerras do Peloponeso. Terminada a expedição mercenária à Pérsia, para combater por Ciro – o Jovem – contra o seu irmão Artaxerxes II, o exército bateu em retirada para o interior da Grécia, depois de ter sido traído num simulacro de armistício que o deixou provado de liderança.
Progredindo até Cunaxa, situada às portas da Bablónia, para regressar depois pelas Margens do Eufrates, as montanhas do Curdistão e atravessando Arménia e Geórgia com o Mar Negro na mira, esta marcha ficou registada na história como um dos mais celebrados feitos militares. Ao todo, os soldados percorreram cerca de seis mil quilómetros, numa expedição que durou quinze meses. Xenofonte foi um dos combatentes dessa marcha e, neste intenso relato, refere-se a si próprio na terceira pessoa.
Para Aquilino Ribeiro, que traduziu e prefaciou esta edição – editada originalmente em 1938 -, Xenofonte, discípulo de Sócrates, era «…aristocrata mas sempre civilista, homem de engenho e de armas, mestre na gineta e na cinergética, apaixonado pela acção e a aventura, e cultivando no seu retiro da Élida a lavoura e as letras.»
Prepare-se o leitor para um festim de violência, combates espectaculares, uma sucessão de cenários e muitas voltas e reviravoltas na narrativa, num livro que poderá ser lido como um parente muito próximo da “Odisseia” Homérica, revisitando uma Grécia que, em tempos, foi o centro absoluto do universo.
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