Num romance que nos traz temas tão sensíveis como a anexação do México aos Estados Unidos ou a captura de civis por parte dos índios, Philipp Meyer (n. 1974) não se inibe de chocar os leitores, deixando-os presos a uma obra que só vão querer pousar quando chegarem à última pagina e que, ainda assim, não os largará.
Assente nas memórias de três membros de gerações diferentes da mesma família, a forma tripartida como “O Filho” (Bertrand Editora, 2014) está escrito é uma vitória de Meyer. Esta metodologia torna-se um desafio para o leitor, que terá que dobrar a concentração para não deixar escapar o fio condutor. Épico texano, descreve mais de 200 anos da história de uma poderosa família, os McCullough de seu nome, centrando-se nas idiossincrasias de quem convive com índios e mexicanos enquanto enriquece graças à descoberta de petróleo nas suas terras.
Várias questões morais e éticas são levantadas e, a forma crua e clara como são descritos assassinatos e cenas de violação, remetem a mente do leitor para a realidade da época. Ao longo da história, a única coisa que interessa é a supremacia da família McCullough.
No interior do romance é explorado o modo como um dos narradores, Eli, raptado por índios que assassinaram a sua família, é posteriormente integrado na família de um Juiz casando com a sua filha, isto enquanto aumenta o seu património com base em roubos de terras e outros abusos de poder; ou como Peter, outro dos que debitam o ritmo da prosa, que, sendo um elemento menos carismático que o pai Eli, irá acabar a lutar por uma descendente da família rival, sendo que, com a força desse afecto, se abstém da violência que o rodeia; sem esquecer Jeanne, neta de Peter, que enquanto enriquece ao extrair petróleo do subsolo, vê a sua vida emocional desfazer-se, deixando de compreender por que razão terá posto duas crianças no Mundo. É precisamente na anti-heroína Jeanne Anne McCullough que nos surgem os fragmentos mais densos da obra.
A grande mais-valia deste romance notável é a forma como três gerações de uma família são analisadas, de forma consistente e pormenorizada. O modo como a vida das pessoas – os seus anseios e dúvidas interiores – e as batalhas de sangue e suor são expostas, fazem de “O Filho” um romance diferente dos demais. Uma parte da História da América. Um épico em 2014.
“Por cada rebelde que se mata, cem convertem-se à causa”.
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