“Sem as mulheres e o álcool, sem a centelha destrutiva da sexualidade, o que sobra são apenas cinzas, um corpo envelhecido num fato grande demais, sem futuro, sem expectativas.”
Jim é internado no hospital psiquiátrico de Beckomberga. Lorne, a mulher, parte de férias. Jackie, a filha de catorze anos, passa a visitar o pai todos os dias.
O hospital psiquiátrico de Beckomberga é a casa desta história: acompanhamos a sua inauguração, a saída do seu último paciente e o seu encerramento em 1995. A natureza envolvente do hospital, longe da cidade de Estocolmo, surge magnificente e de intencionalidade terapêutica.
“É difícil idealizar a instituição como o lugar perfeito capaz de fazer aquilo que nós, seres humanos, não somos capazes de fazer uns pelos outros. Ao mesmo tempo, ela é assustadora, porque representa o que é imperfeito em nós: o fracasso, a fragilidade, a solidão.”
As visitas de Jackie ao pai permitem-lhe acompanhar a vida dos pacientes do hospital, os satélites de Jim, Sabina, a sua amante, Edvard, o médico que leva os pacientes a festas na cidade, Olav o último paciente de Beckomberga e Paul, o homem tatuado por quem Jackie se apaixonará.
A narrativa é uma ode triste à família. Uma mãe doente, que gera um filho doente, que por sua vez gera uma filha um pouco menos doente. Um esboço das famílias doentes que carregam consigo a auto-profecia confirmada da angústia geracional. Não parece haver qualquer salvação, nem raiva ou obstinação. Uma melancolia por vezes exacerbada, com uma poética, também ela, por vezes excessiva. A monotonia de uma família infeliz.
Se, para Jackie, o seu pai era água, o seu filho, Marion, é a razão para se suster lúcida, a sua terra. A gravitação do amor.
“A Gravitação do Amor” (Bertrand, 2016), de Sara Stridsberg, foi vencedor do Prémio Literário da União Europeia e do Prémio Selma Lagerlöf Literary Award.
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