Difícil imaginar Robert Redford como alguém inseguro relativamente ao próprio aspecto: “Nunca me achei bonito; quando era miúdo, tinha a cara cheia de sardas e chamavam-me ‘cabeça de palha’”, confessou em tempos. No entanto, até um míope é capaz de ver que Redford mantém, até aos dias de hoje, uma aparência fora de série – mesmo do alto dos seus 80 anos. Ainda assim, procurou sempre desempenhar papéis intelectualmente estimulantes, relegando a imagem de sex symbol para segundo plano.
Charles Robert Redford Jr. nasceu a 18 de Agosto de 1936 em Santa Mónica, na Califórnia, e desde cedo revelou talento para o desporto; tal terá contribuído para a obtenção de uma bolsa na Universidade do Colorado, onde integrou a equipa de baseball. Contudo, a morte prematura da mãe, vítima de septicémia, deixou-o completamente devastado, levando-o a abandonar os estudos e a partir para a Europa. Influenciado pela progenitora, que tinha uma enorme paixão por literatura e cinema, Redford rapidamente se interessou por arte e cultura, adoptando uma vida boémia durante este período.
No regresso aos Estados Unidos, conheceu Lola Van Wageran, com quem se casou em 1958. E eis que surge mais um revés: o primeiro filho de ambos, Scott, morre subitamente, com apenas cinco meses. Destroçado, Redford refugia-se na representação, conseguindo obter o papel principal na comédia romântica “Barefoot in the Park”, realizada por Mike Nichols. Mas será apenas em 1969 que o actor se converte numa estrela, graças ao western “Butch Cassidy and the Sundance Kid”, dando início a uma amizade de décadas com Paul Newman. E embora o sucesso fosse cada maior, a necessidade de escapar ao bulício de Hollywood acabou por imperar, levando-o a comprar uma quinta no Utah. Este contacto próximo com a natureza foi o ponto de partida para apoiar as causas ambientais que proliferaram nos anos 1970.
Em 1973 surgem mais duas grandes oportunidades: “The Way We Were”, um drama sobre os altos e baixos de uma relação, tendo aqui cimentado mais uma amizade duradoura – desta feita, com Barbra Streisand – e “The Sting”, onde partilhou uma vez mais o ecrã com Newman. O filme granjeou a aprovação tanto da crítica como do público e Redford conquistou a primeira nomeação para um Oscar. Não foi, porém, caso único: os sucessos de bilheteira foram-se multiplicando, graças a projectos como “The Great Gatsby”, “Three Days of the Condor” e “All the President’s Men”, tendo este último sido realizado na sequência do caso Watergate.
Alimentando há muito o desejo de se tornar cineasta, Redford passou para trás das câmaras e dirigiu Mary Tyler Moore, Donald Sutherland e Timothy Hutton em “Ordinary People”, um drama em torno de uma família marcada pela perda – e eis que conquista o Oscar de melhor realizador. Corria o ano de 1980 e é precisamente nesta altura que Redford funda o Sundance Institute, destinado a apoiar cineastas independentes. No entanto, não ficou por aqui: assinou filmes como “The Milagro Beanfield War” (1988); “A River Runs Through It” (1992); “Quiz Show” (1994); e “The Horse Whisperer” (1998), entre outros. Ainda assim, nunca abandonou a representação, tendo recentemente desempenhado um papel notável em “All Is Lost”, uma longa-metragem sobre um marinheiro à deriva em alto mar.
Redford é casado com Sibylle Szaggars, uma pintora alemã, desde 2009 e tem três filhos do primeiro matrimónio: Shauna, Amy e Jamie. Para quem assume nunca ter acalentado grandes ambições, há que reconhecer tratar-se de um percurso assombroso. E, no mínimo, desempoeirado: “Não me arrependo de nada, já que dei sempre o meu melhor.” Não podíamos estar mais de acordo: hear, hear!
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Ótima matéria !