Apesar de a capa poder dar a entender que “A Ilha de Entrada” (Marcador, 2016) é o livro que encerra a Trilogia de Lewis – The Lewis Trilogy no original -, isto após o lançamento pela Marcador de “A Casa Negra” e “Um Homem Sem Passado”, tal está longe de corresponder à verdade. O grande final irá acontecer com “The Chess Men” – ainda sem título português – e, para os fãs de Peter May e como cantavam os Xutos há uns bons aninhos atrás, longa se torna a espera para saber que destino está reservado a Fin Macleod.
Seja como for, este “A Ilha de Entrada” é mais um exemplo da mestria de Peter May em urdir um grande romance policial, atravessado por referências geográficas, feridas passadas e uma capacidade de levar o leitor a passear por lugares onde a paisagem é de cortar a respiração.
Há, ainda assim, pontos em comum com o primeiro livro da trilogia. Nesta história, cabe ao detective Sime Mackenzie fazer uma viagem de mil e trezentos quilómetros, onde terá de refazer os próprios passos num lugar nunca antes visitado. Uma oportunidade de ouro de fugir à solidão e à mágoa que tomaram conta de si depois de uma relação amorosa atirada às urtigas.
Sime viaja integrado numa equipa de oito investigadores, partindo de Montreal com destino ao golfo de St. Lawrence. É lá que fica a Entry Island, uma ilha com dois quilómetros de largura, três de comprimento e uma população de pouco mais de 130 pessoas, reduzida com a morte do seu habitante mais rico, assassinado na sua própria casa.
A investigação, de acordo com as autoridades locais e a equipa de investigadores, promete não passar de uma mera formalidade. Todas as provas apontam para Kirsty Cowell, a agora viúva, que terá cometido um crime de vertigem passional. Para Sime, porém, há um estranho reconhecimento para além do instinto de detective: “Não sabia onde, como ou quando a conhecera. Mas tinha a certeza absoluta.”
Os ascendentes de Sime eram escoceses, motivo maior para que fosse incluído nesta equipa de investigadores onde não passa de um estranho, onde “o que os separava era mais do que a língua que falavam.” May balança a narrativa entre um passado distante, numa ilha da Escócia a quase cinco mil quilómetros de distância, e o presente, onde Sime junta à presunção da inocência uma paixão que ameaça não apenas a sua carreira como a própria sanidade mental.
Ainda que carregue mais mel do que fel, ao contrário dos dois primeiros títulos da Trilogia Lewis, Peter May constrói com muito engenho narrativo uma história que cruza gerações e encurta distâncias, juntando ao sempre bem-vindo negrume uma carga emocional que é mantida até à última página. Resta agora esperar que a Marcador publique o muito esperado último volume da Trilogia Lewis.
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