“A palavra “conflito” pode ser aplicada a tudo (…). Neste livro, significa uma divergência de opiniões – entre nações, povos ou movimentos políticos – que impliquem o recurso à violência mortífera.”
É desta forma que começa o livro de investigação de John Andrews, jornalista especializado em política mundial e correspondente da revista The Economist no estrangeiro.
“Os Grandes Conflitos Mundiais” (Clube do Autor, 2016) faz uma análise sobre os conflitos e as tensões que têm vindo a ameaçar a estabilidade do mundo. Dividido por continentes, nele são expostas as tensões existentes e os conflitos que podem surgir dentro das diferentes áreas geográficas do globo.
É sabido que o século XX foi um dos mais negros da história mundial, mas constata-se que “só no século XXI, que não completou ainda duas décadas, os Estados Unidos e os seus aliados já invadiram o Iraque e o Afeganistão; a Rússia tem estado em guerra com a Geórgia; o Reino Unido e a França juntaram-se para ajudar a derrubar um regime na Líbia.”
No Médio Oriente e Norte e África, o tema do dia é o Estado Islâmico e os conflitos políticos e religiosos entre xiitas e sunitas. Estes últimos têm sido os protagonistas das últimas revoluções contra os governos nortes-africanos, originando a Primavera Árabe que veio, posteriormente, desencadear tumultos no Egipto. Os poços de petróleo, o combate ao terrorismo e a alegada presença de armas de destruição maciça, foram as justificações usadas pelos Estados Unidos e por certos países europeus, nomeadamente a França, para invadir e bombardear alguns países do Médio Oriente. Tal facto veio incitar os fiéis mais extremistas a impor-se na Europa, através de ataques bombistas.
Já no resto de África, o problema é a governação deficiente e corrupta e as consequentes desigualdades sociais, como acontece em Angola; a disputa pelos diamantes e petróleo na Nigéria e no Congo; os conflitos entre as tribos no Quénia ou Ruanda – que foi também palco de um genocídio no final do século passado por motivos étnicos.
A Ásia partilha de alguns males acima referidos. A presença de armas nucleares por parte da China e Coreia do Norte é um potencial foco de conflito e com impacto terrível para o resto do mundo. Para os Estados falhados como o Afeganistão, há a ameaça recorrente de exportar o terrorismo islamita para o resto do mundo.
Por sua vez, a América Latina não tem registado grandes guerras. Há disputas de território marítimo a serem travadas mas sem recurso à violência. Os Estados Unidos moldaram os países latinos ao longo do século XX devido ao combate incessante contra o socialismo e comunismo, derrubando, por exemplo, o presidente chileno Salvador Allende em 1973 e impondo um embargo a Cuba, país este que só foi retirado da lista de países terroristas este ano. A pobreza extrema é outro dilema: o crime organizado – produção e tráfico de droga – vem ganhando cada vez mais terreno. Daqui resultam migrações por parte dos latinos para os Estados Unidos, à procura de uma vida melhor.
A diversidade dos conflitos que podem emergir é imensa. O perigo espreita em cada esquina e as consequências de qualquer um destes cenários pode ser devastadora. No entanto, há algo que fica por explorar neste livro. Em todas as guerras, o maior dano colateral é o humano. Desde o início do século, já se contam milhões de mortes civis e militares derivado aos atentados trocados entre as nações. No caso do Médio Oriente, esta instabilidade impulsionou migrações em massa para a Europa, que estimulou várias demostrações de intolerância religiosas e étnicas que por sua vez irão gerar revoltas por parte dos europeus mais extremistas. A história repete-se assim, com o medo a ser usado como uma arma, inutilizando os argumentos racionais.
“Se ensinássemos todas as crianças de oito anos a meditar, eliminaríamos a violência no mundo numa só geração.”
Dalai Lama
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