No ano em que é lançado o novo livro do Nobel Mario Vargas Llosa – “Cinco Esquinas” -, a Dom Quixote aproveita para lançar no mercado mais uma reedição de um clássico do autor peruano, cuja narrativa se move num dos seus territórios predilectos: o do romance político que promove um olhar sobre a corrupção.
“A Festa do Chibo” (Dom Quixote, 2016 – reedição) viaja até à República Dominicana e aos tempos do ditador Trujillo – estamos em 1961 -, que ficou conhecido, pelo menos por aqueles que com ele privaram e se amedrontaram, por “generalíssimo”, “chefe” ou “benfeitor”.
A narrativa decorre em duas linhas temporais: a do passado, com o retrato da crueldade e do terror, onde em paralelo corre a semente da revolução numa cidade que se passou a chamar Trujillo; a do presente, onde Urania, depois de trinta anos sem pisar a pequena ilha, regressa para enfrentar a ruína em que se transformou o seu pai – ele próprio um fiel servidor de Trujillo -, arrumando de vez um passado que lhe deixou traumas eternos.
Llosa faz uma radiografia exemplar de um país mergulhado na ditadura e no terror, mostrando como uma democracia pode, também ela, assentar em estilhaços pintalgados de sangue, onde a linha que separa os lobos dos cordeiros é do mais ténue que se pode desenhar. As personagens, quer as que semeiam o terror puro ou as que acreditam no sonho utópico, são construídas com uma habilidade de artesão, e é nelas que reside o grande triunfo deste romance.
Sem Comentários