Inicialmente pensado para Cinema, Dog Mendonça acabou por ganhar vida nas páginas de uma BD de 2010, quando a Tinta da China publicou “As Incríveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizzaboy”, escritas por Filipe Melo, desenhadas por Juan Cavia e coloridas por Santiago Villa.
Melo tinha o seu primeiro guião escrito desde 2005 e, depois de 5 anos de tentativas, foi uma grande vitória chegar a este momento. Contudo, todos os autores estavam longe de imaginar a incrível – para roubar do título – recepção que o livro viria a receber, uma recepção que se estendeu além-fronteiras quando Jonh Landis – que escreve o prefácio do primeiro volume – fez chegar o livro a Mike Richardson, presidente e fundador da editora de BD norte-americana Dark Horse.
Antes de publicar o primeiro livro, Richardson sugeriu aos autores apresentarem primeiro as personagens na revista “Dark Horse Presents”, a mesma que deu a conhecer ao mundo “Sin City”, de Frank Miller”, ou “Hellboy”, de Mike Mignola. O plano original consistia em contar a origem de Dog Mendonça em três capítulos de oito páginas cada. Porém, o incumprimento de outros autores fez com que Melo e companhia fossem convidados para mais um quarto capítulo para a “Dark Horse Presents”, sendo por isso que esse conto surge como algo completamente distinto dos três primeiros: um em que os autores aproveitaram para deambular novamente pelo passado da personagem mas, desta vez, falando sobre a sua mítica aventura com o monstro de Loch Ness. No final, a boa apreciação das revistas fez com que estes quatro capítulos fossem compilados e editados pela Dark Horse com o título “The Untold Tales of Dog Mendonça & Pizzaboy” e, agora, pela Tinta da China, com este “Os Contos Inéditos de Dog Mendonça e Pizzaboy” (Tinta da China, 2016), o primeiro e único volume de todas estas aventuras a ser editado primeiro nos Estados Unidos do que em Portugal.
Em poucas páginas, os autores conseguem contar-nos a origem deste lobisomem de Tondela, misturando folclore e criando toda uma moderna sociedade de monstros a viver em Lisboa, fazendo assim a ponte para o primeiro volume destas aventuras. A história, sendo trágica, nunca dispensa o lado humorístico que sempre a caracterizou, sendo através do narrador, o próprio protagonista, que Filipe Melo aproveita para brincar com toda a indústria de BD, sejam editores, criadores ou, também, os próprios leitores, algo especialmente patente no último capítulo.
Juan Cavia e Santiago Villa mantêm o mesmo estilo com que nos habituaram nestas páginas e sente-se bem que hoje estas personagens são tanto deles como de Melo. Apesar do tom escuro com que Villa pinta estas histórias digitalmente, algumas vinhetas poderiam ter beneficiado de uma impressão mais clara.
A separar esta edição da norte-americana, além de esta seguir na tradição dos volumes anteriores em tamanho e capa, podemos contar com quatro ilustrações originais de Ricardo Cabral, Filipe Andrade, Jorge Coelho e Joana Afonso, bem como uma descrição do processo de criação por Ana Markl – e mais um prefácio icónico, desta vez escrito por Lloyd Kaufman, nada mais, nada menos que o criador do Toxic Avenger.
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