A 13ª edição do IndieLisboa, o festival internacional de cinema independente que se tornou numa referência anual bem conhecida do público português, regressa na recta final do próximo mês, entre 20 de Abril a 1 de Maio. A sua extensa programação (os directores do festival – Miguel Valverde e Nuno Sena – ainda consideram a hipótese de haver mais surpresas) passará pela já habitual “catedral” que é o Cinema São Jorge, como também pela Culturgest, o Cinema Ideal e o ponto de paragem habitual do cinéfilo em Lisboa: a Cinemateca Portuguesa.
Após uma aposta na renovação do conceito do festival, que teve início na edição do ano passado, o IndieLisboa parece contrariar qualquer tendência recessiva da conjuntura social em que se inseriram as suas edições anteriores. O festival continua na demanda pela conquista de novo público, sem restrição de idade (o IndieJúnior, por exemplo, aposta na formação de públicos através das escolas, assim como convida a família inteira a juntar-se à celebração do cinema). Passemos, então, aos destaques da edição de 2016:
A Competição Internacional contará com obras inéditas nas salas portuguesas, que se centram, sobretudo, nas primeiras apostas dos cineastas nas longas e curtas-metragens, cada vertente com o devido destaque. Abrange campos tão distintos como ficção, animação, documentário e filmes experimentais, numa verdadeira pluralidade de nacionalidades: nas longas-metragens contamos com americanos, belgas, gregos, chineses (“The Family”/”Jia” é um mamute com quase 5 horas de duração), egípcios ou brasileiros, por exemplo. Houve especial consideração pela natureza contemporânea e relevante dos temas escolhidos para os filmes, reforçando o apelo à consciencialização social. Curiosa é a presença dupla de Leonor Teles, com a curta-metragem consagrada em Berlim, “Balada de um Batráquio”, a marcar presença entre os nomes internacionais e também na Competição Nacional. Esta última, por sua vez, contará com quatro longas-metragens, com a atenção imediata a recair no já veterano (do Indie) Sérgio Tréfaut e “Treblinka”. Nas curtas-metragens, além de Leonor Teles, é sonante o nome de Pedro Peralta e “Ascensão”, bem como o inclassificável Gabriel Abrantes, que se junta a Ben Rivers para nos apresentar “The Hunchback”. Há ainda espaço para cineastas que lutam contra as adversidades disso que é fazer cinema e que nos apresentam os seus primeiros passos na competição de curtas-metragens apelidada Novíssimos.
Já a secção Silvestre reúne igualmente obras de jovens cineastas e autores consagrados, pautadas pela irreverência que o IndieLisboa considera ser sua característica, com nomes como Andrian Sitaru, Roberto Minervini ou o Foco Silvestre – diversas apostas curtas do autor Jean-Gabriel Périot. Noutro registo, Director’s Cut procura mostrar novos filmes que se inspiram na memória do cinema, em parceria com a Cinemateca Portuguesa no assinar da programação: serão revisitados nomes como Guy Maddin, Robert Frank, Jacques Tourneur e Dario Argento. Para quem sofre de insónias, ou tem disponibilidade para passar uma noite inteira no Cinema Ideal, tem à sua espera 15 longas e curtas-metragens (de onde se destaca “The Witch” de Robert Eggers), exibidas em modo maratona. O nome da secção, apropriado, é Boca do Inferno. Fora de competição, as chamadas Sessões Especiais darão oportunidade de contemplar “Cartas de Guerra”, de Ivo M. Ferreira, ou obras de cineastas provenientes do marco académico La Fémis (o conservatório nacional de cinema francês).
Por fim, os Heróis Independentes – a ser celebrado, um binómio: popular e consagrado (Paul Verhoeven) vs antecipação do Indie em relação à consagração geral (Vincent Macaigne). Se Macaigne é um actor e encenador com 37 anos que é celebrado pela marca característica que imprime no cinema francês, já Paul Verhoeven, com o novo filme às portas de Cannes, dispensa apresentações. A organização adianta que o seu nome foi escolhido pela “lucidez com que soube integrar-se em Hollywood e, ainda assim, manter a sua identidade“. Dizem-nos também, e com razão, que ser cineasta independente não é só uma questão de falta de meios. Aguardamos, impacientes, pelo regresso de “Showgirls” a uma sala de cinema portuguesa.
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