Quem leu “As Horas” de uma ponta à outra, é provável que tenha sentido a angústia a circular pela corrente sanguínea, colocado lado a lado com Virgína Wolff a escassos metros de um abismo tentador. Em “A rainha da neve” (Gradiva, 2014), o seu mais recente romance, Michael Cunningham reduz o negrume e o sobressalto mas, ainda assim, oferece um livro onde as cores da melancolia estão bem impressas.
Apesar de ter os holofotes apontados para várias personagens de corpo inteiro, a história de “A rainha da neve” está centrada nos irmãos Barrett e Tyler que, depois de observarem a vida dar uma série de voltas e cambalhotas, vêem-se de novo a morar juntos numa casa pouco luminosa na cidade de Nova Iorque.
Numa noite em que regressa a casa depois de sofrer uma separação por SMS, Barrett sente-se tentado a olhar para o céu, onde avista uma luz pálida e translúcida que, de tão bela, lhe faz sentir que está prostrado aos pés de uma epifania. Ao mesmo tempo, Tyler vive um duelo sanguinário com a inspiração própria, tentando terminar uma canção que irá interpretar para a noiva Beth no casamento de ambos, que se encontra gravemente doente e sem grandes perspectivas de vida.
Cunningham mostra-nos dois seres unidos pelos genes que, numa luta pela transcendência, desejam compreender – cada um à sua maneira – de que é feita a alma humana, num caminho atravessado pela mudança, pela tristeza e pela descoberta.
Porém, mais do que apresentar uma radiografia da tragédia, Cunningham opta por mostrar o “antes” e o “depois”, deixando nas mãos – e na imaginação – do leitor a decisão sobre o destino de uma das suas personagens maiores. O que, convenhamos, não deixa de ser um pequeno feito.
1 Commentário
Eu fiquei um pouco decepcionado. Ele continua sendo meu autor favorito, mas Rainha da Neve me pareceu meio como que partido no meio. Deu a impressão que ele estava com preguiça de escrever. Achei os personagens mal elaborados.