Em 2011, os Youthless estavam nas bocas do mundo. O duo, composto por Alex Klimovitsky (bateria, sintetizador e voz) e Sebastian Ferranti, (baixo e voz) havia-se formado em 2009, mas foi em 2011, aquando do lançamento do seu primeiro LP, “Telemachy”, que se deu um autêntico boom.
Aclamados por várias publicações de respeito, incluindo o NME e a BBC1, fizeram as primeiras partes de gente como os Horrors ou os Crystal Castles. Foi por essa altura que escorregaram numa casca de banana cósmica: Alex teve um problema grave de saúde nas costas, que levou a uma paragem forçada na actividade da banda, seguida de uma cirurgia e uma longa reabilitação.
As boas notícias regressaram no verão de 2015: os Youthless voltaram a juntar-se para gravar as músicas escritas durante o hiato e, há poucos dias, lançaram o seu segundo álbum, intitulado “This Glorious No Age”, que conta com o selo da NOS Discos – em Portugal – e da Club.The.Mammoth / Kartel Music – em Inglaterra. Muitas coisas mudaram no mundo depois de 2011, mas há uma coisa que se mantém: os Youthless continuam a ser uma banda que vai chegar longe. O Deus Me Livro foi investigar como é que um inglês e um americano andam a exportar perigosos riffs psicadélicos a partir de Lisboa. Palavra para Alex Klimovitsky, uma das metades dos Youthless.
Depois de uma paragem forçada, como se deu o reboot da banda no verão passado?
Durante a paragem forçada, eu voltei para Nova Iorque mas voltava a Lisboa durante vários meses por ano e, durante esse tempo, íamos sempre trabalhando no disco, pouco a pouco, em várias caves e estúdios caseiros. Quando finalmente acabámos as gravações, há mais ou menos dois anos, mandámos ao Justin Gerrish (The Strokes, Vampire Weekend) para misturar e, como ele o faz por gosto pessoal e não pelo dinheiro, demorou imenso tempo a fazer as misturas. No verão passado, quando finalmente estava tudo pronto, eu e o Sab voltámos a tocar, a aprender o disco e a testá-lo ao vivo, o que acabou por ser muito natural. Toco com Sab desde os meus 14 anos, por isso temos uma química que vem de aprender a tocar juntos ao longo dos anos. Quando tocamos é sempre como voltar a andar de bicicleta… não faz diferença há quanto tempo não estamos juntos.
O vosso primeiro álbum, “Telemachy”, baseava-se numa personagem da Odisseia de Homero. Este segundo álbum assenta em algumas ideias de Marshall McLuhan sobre a invenção da electricidade. Como é que estes conceitos intelectuais se relacionam com uma música de apelo tão imediato e físico como a vossa?
Isso é uma boa pergunta, porque sempre senti que a nossa música tem uma origem visceral. Todas as músicas partem de improvisos que fazemos com bases nos riffs/Garage Rock e sonic/noise rock. É também daí que vêm as ideias originais para as temáticas das músicas, duma forma muito geral e básica. “Esta música é uma despedida,” ou se calhar aparecem umas palavras ou uma imagem. Mas depois, para escrever as letras, interessa-me mais pensar nas coisas como obras completas. Como um filme ou uma peça de teatro. E por isso, ao menos nestes últimos dois trabalhos, tentei encontrar uma alegoria (como por exemplo a viagem de Telemacho à procura do seu pai, o aventureiro, que para mim serviu para falar da minha busca pelo meu próprio pai, que não conhecia tão bem por ser um artista nómada) através da qual conseguisse expressar coisas muito pessoais. Sinto por vezes que ajuda ter uma protecção (para não estar a falar de mim directamente) e uma estrutura muito firme, porque de certa forma isso proporciona o oposto, dá-te uma liberdade enorme para falar de coisas mais pessoais e escondidas.
De onde veio a ideia de construir as músicas desta forma original? Com baixo, bateria, múltiplos amplificadores e pedais de distorção?
Começámos a tocar por brincadeira. Eu queria aprender a tocar bateria (sou guitarrista) e o Sab queria encontrar novos sons com o baixo e utilizar o instrumento de uma maneira muito diferente. Foi assim que descobriu esse sistema de utilizar muitos amps com efeitos diferentes para poder fazer ambientes sónicos e, ao mesmo tempo, ter linhas de baixo, solos e melodias. É um som que ele está sempre a aperfeiçoar e mudar.
Em Novembro passado fizeram a primeira parte dos Unknown Mortal Orchestra no Armazém F e no Hard Club, em concertos esgotados. Como foi essa experiência?
Foi muito fixe! A melhor parte foi ver Unknown Mortal Orchestra duas noites. Sou grande fã da música deles.
Os singles “Golden Spoon” e “Attention” já rodam por aí e parecem indicar uma evolução na continuidade em relação aos trabalhos anteriores. Como achas que evoluiu o som da banda neste novo álbum?
Acho que estamos a ficar mais e mais estranhos. As primeiras músicas que fazíamos eram muito a base do que conseguíamos fazer nessa altura, só com duas pessoas. Agora que temos um pouco mais de controlo sinto que saímos mais dos géneros clássicos do garage ou indie, encontrando uma estrada menos batida.
A vossa carreira divide-se principalmente entre Lisboa e Londres. Quais são as maiores diferenças entre os dois públicos e as duas cenas musicais?
Isso é difícil de descrever, as culturas musicais são muito diferentes aqui e lá. Gostamos muito de tocar nos dois sítios e gostamos das bandas com quem convivemos. A única coisa que às vezes tenho dificuldade em fazer aqui é falar com o público em português. Sei falar bem (já estamos cá há muitos anos), mas depois de uns whisky‘s e quando queremos soltar-nos, não me sinto particularmente confortável a falar em português (se calhar porque fico consciente do meu sotaque Gringo) com o público ou a dar entrevistas. Isso é mais fácil lá.
Vocês assumem-se como fãs dos Black Sabbath. Qual é a influência do rock dos anos 70 no vosso som? E coisas mais recentes que vos tenham entusiasmado?
Os anos 70 têm mesmo muita influência em nós! Tudo aconteceu nos 70, não foi? Punk, Pub Rock, Prog rock, Glam, New Wave, Dub,Bowie, Bolan, Floyd, Zeppelin, The Clash… a lista nunca acaba.
Quais são os vossos guilty pleasures? Há alguma coisa que ouçam que não tenha nada que ver com a vossa sonoridade?
Nós ouvimos muita coisa que não tem nada a ver. Por exemplo, ando obcecado com o “To Pimp a Butterfly” de Kendrick Lamar, mas não é um guilty pleasure. Se calhar “Hotline Bling”, do Drake. Drake é um palhaço mas o beat está muito louco.
Os Youthless vão-se apresentar em digressão com uma formação alargada: Francisco Ferreira (Capitão Fausto) e João Pereira (Riding Pânico). Como vai isto afectar o som da banda?
Acho que está a soar mesmo muito bem. Ainda é muito cru, rockeiro, mas há mais nuances e arranjos mais complexos. Estou a adorar.
A digressão de promoção de “This Glorious No Age” começa no Music Box a 11 de Março e continua ni dia seguinte no portuense Maus Hábitos. O que podemos esperar desse concerto?
Kaos e nudez… espero.
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