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Tim Bernardes, Concerto, Reportagem, CCB, Centro Cultural de Belém, Deus Me Livro, Luís Sousa, Música em DX
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Tim Bernardes @ CCB (19/9/2019)

Por Pedro Miguel Silva · Em 25/09/2019

Foi num cenário de poupança energética que o gigante Tim Bernardes, autor de um dos mais recomendados discos que o Brasil viu exportar nos últimos anos, se apresentou no quase lotado Grande Auditório do CCB, naquela que foi uma viagem solitária por entre o piano e a guitarra que deixou mossa na alma popular.

Um disco que, segundo Bernardes, foi imaginado durante muito tempo, entre as andanças musicais de O Terno – banda da qual faz parte – e tudo o resto. No CCB, a ideia foi apresentar as canções de “Recomeçar” antes de estas terem ganho um ar mais orquestral e polido, quase como se com ele partilhássemos a intimidade de um quarto, apenas alimentado com uma luz de secretária, um candeeiro de pé e alguns projectores ocasionais – sempre numa alternância eléctrica. “Este quarto é grande demais, não tenho roupa para isso“, brincou, dizendo estar “in love” com a sala.

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“Recomeçar”, tocada ao piano, serve de arranque em câmara lenta, mas é à guitarra – guitarras – que Tim Bernardes percorre a maioria da setlist, oferecendo de seguida esse manifesto social e poético de nome “Tanto Faz”, onde se exige uma justiça de facto – ou, se estiverem do outro lado do oceano, de fato. Um tema recebido com um silêncio sepulcral e uma atenção dedicada, sendo claro desde então que o som vai estar no ponto – mais tarde, ficaríamos a saber que ao comando das operações esteve Gui Jesus Toledo, precisamente a pessoa responsável pela engenharia sonora de “Recomeçar”.

“Pouco a Pouco”, uma introspecção que vale bem uma consulta de psicoterapia, está entre o blues do deserto e uma valsa donduzida à beira-mar, servindo de empurrão a “Quis Mudar”, onde Tim vai cruzando e descruzando as pernas com a bênção do fantasma de Nick Drake.

Segue-se “Que Nega é Essa?”, canção de Jorge Ben que “tem um clima romântico e esperançoso que o vazio às vezes pede“, um momento de roque enrole com a voz de Bernardes a subir e a descer escadas enquanto canta, com cada fibra, que “não adianta me abandonar”. O gigante veste depois O Terno completo para uma rendição aprimorada de “Pra Sempre Será”, qualquer coisa como uma versão mais romântica, menos dolorosa e não tão festiva quanto “Disco 2000”, dos Pulp, aproveitando para uma pequena acção de marketing entre discos e concertos a marcar na agenda.

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Regressa-se ao piano para um fabuloso e improvável medley entre “Changes”, dos Black Sabbath, e “Paralelas”, de Belchior – “Não se conheceram mas seriam grandes amigos“, brinca Bernardes. Um momento onde a voz de Bernardes parece tornar-se uma outra, mostrando que há muitas vidas perdidas dentro deste cantautor brasileiro, que tanto nos atira um falsete como escava fundo e a grande profundidade.

Em “Era o Fim” sente-se a dor e a perda a cada acorde, com a sombra do lobo mau a guardar Bernardes antes de este decidir saltar às cordas como se estivesse no parque de diversões dos Animal Collective. “Soluços”, um original de Jards Macalé, é um dos grandes momentos da noite, mostrando que um homem pode chorar e de várias maneiras.

A certa altura, Bernardes confessa o seu amor aos compositores dos anos setenta, dizendo que a certa altura se deu conta de que estava a deixar de lado composições modernas bem desenhadas, como era o caso de “Como Eu Queria Voltar”, de Dônica, que a certa altura nos faz sentir saudades de Jeff Bucley. Contam-se depois “As Histórias do Cinema” ao piano, com Bernardes a tratar da percussão ao micro e a arriscar ainda um assobio.

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“Melhor do Que parece” desperta o coro popular, pedido em silêncio mas com um olhar dedicado do músico, cantorio colectivo que prosseguiu em “A História Mais Velha do Mundo”, dose dupla de O Terno que abre terreno para o fechar do círculo com “Recomeçar”.

No arranque do encore, Bernardes, já com as luzes acesas e a visão de uma sala aplaudindo de pé, diz nunca ter tocado para tanta gente, a não ser quando com O Terno abriu para os Los Hermanos no Maracanã. Brilha depois nos agradecimentos, revelando que o plano é, agora, regressar com O Terno – fica!, grita alguém apontando à permanência.

Há ainda menções especiais para Capitão Fausto e Salvador Sobral, antes do remate final com “Volta”, mais uma malha de O Terno, e de “Realmente Lindo”, tema escrito por Bernardes que acabou por ser gravado por Gal Costa. “A saudade já foi embora”, canta-se aqui, mas a verdade é que estas começaram a bater assim que Tim Bernardes abandonou o palco. Por aqui já temos O Terno passadinho para o tão desejado regresso.

 

Fotos: Luís Sousa/Música em DX

Promotora: Sons em Trânsito

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Pedro Miguel Silva

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