Antes de iniciar este top, convém sublinhar que 2016 foi um ano prolífico no que toca a edições de clássicos da BD. Foi neste ano que se editaram várias das obras de referência de Alan Moore (“Watchmen”, “V For Vendetta”, “Miracleman”, – “Do Inferno” pela Devir acabou por ser adiado para 2017), a colecção inteira de “The Sandman”, de Neil Gaiman, mais uma colecção de novelas gráficas pela Levoir e, ainda – last but not least -, “Revisão”, uma colectânea de histórias portuguesas dos anos 70 publicadas na Visão e re-editadas pela Associação Chili com Carne.
De forma a dar mais destaque a obras da actualidade, as BD’s clássicas mencionadas acima não foram consideradas para este top – afinal de contas, já se tornaram clássicas por alguma razão. Sem mais demoras, apresentamos o top das melhor BD’s de 2016.
“Simplesmente Samuel” | Tommi Musturi
Editora: MMMNNNRRRG
Em 2009, a MMMNNNRRRG introduziu no panorama nacional de BD “Caminhando com Samuel”, um livro que sobressaía pelo seu uso de cores e pela estrutura narrativa surrealista. Desde então a obra de Tommi Musturi tem recebido atenção por parte da editora, a qual continua a divulgar e a distribuir os seus trabalhos. Este ano foi a vez de vermos o regresso dessa personagem cada vez mais icónica, o velho (ou novo) Samuel. Esta figura branca de um olho está de regresso para nos acompanhar pelos territórios mais extravagantes ou familiares que consigamos imaginar. Mais um triunfo no currículo de Musturi, autor que cada vez mais se assume como uma força relevante no universo da BD contemporânea.
“O Astrágalo” | Anne-Caroline Pandolfo e Terkel Risberg
Editora: G. Floy
O catálogo da G.Floy sempre se assumiu como um catálogo de BD norte-americana, mais especificamente com trabalhos da Image e da Marvel. Talvez por isso a edição de “O Astrágalo” tenha surgido como uma surpresa ainda maior. Esta é a adaptação em BD do romance de Albertine Sarrazin, a escritora inconformista que inspirou tantos e partiu tão cedo, com apenas 30 anos. Esta adaptação de Anne-Caroline Pandolfo e Terkel Risberg consegue captar muito bem o romance vivido por Anne e Julien, bem como o sentimento de enclausura vivido por tantos numa Paris pós-guerra.
“Eu, Assassino” | Antonio Altarriba
Editora: Arte de Autor
Depois de termos salientado, no ano passado, “A Arte de Voar”, de Antonio Altarriba, é tempo de voltarmos a sublinhar o trabalho deste autor espanhol que volta a ser editado por cá, desta vez com “Arte de Autor”. Acompanhado pelo traço de Keko, Altarriba encontra em “Eu, Assassino” a oportunidade para filosofar sobre a “arte” do homicídio através do professor Enrique Rodriguez, um assassino em série que tem como mote na vida criar arte a partir da morte. Uma história tão macabra quanto entusiasmante.
“Megg, Mogg & Mocho” | Simon Hanselmann
Editora: MMMNNNRRRG
O humor de Simon Hanselmann tem a particularidade de conseguir ter tanto de hilariante como de incomodativo. O que o autor nos traz aqui é um verdadeiro caldeirão de sentimentos. À primeira vista, o trabalho de Hanselman poderá parecer ordinário pelo simples prazer de o ser, mas existe algo mais nas aventuras deste trio e na forma como o seu estilo de vida é explorado: no fundo, estamos perante três grandes figuras trágicas. Uma BD sem paralelo que não merece passar despercebida.
“Liga de Cavalheiros Extraordinários III: Século” | Alan Moore e Kevin O’Neil
Editora: Devir
É uma Liga, tanto em termos de equipa como de composição, bastante diferente, mas ao mesmo tempo a emanar a mesma classe e o mesmo charme que tem desde a sua origem. Os capítulos são bem estruturados, começando em 1910, avançando por 1969 e terminando em 2009. Naquele que foi o ano de Alan Moore em Portugal, é bom ver que a atenção que lhe foi dada não se restringiu apenas às suas obras mais antigas. Com este lançamento, fica apenas a faltar a edição de “Black Dossier” para a Devir completar as aventuras desta liga criada por Moore e Kevin O’Neil. (Ler crítica)
“Espero Chegar Em Breve” | Nunsky
Editora: MMMNNNRRRG
Nunsky é cada vez menos um cometa na BD nacional, como alguns o apelidavam, devido à sua escassa aparição. Desde o seu regresso em 2014 com “Erzsébet” que o autor nos tem brindado com um livro todos os anos, uma tradição que esperamos que continue. Com este “Espero Chegar Em Breve”, o autor destaca-se pela mudança no tom e nas temáticas que tinha vindo a abordar. Esta adaptação do conto de ficção científica de Philip K. Dick reforça a força que Nunsky continua a ganhar enquanto autor, tanto a nível de adaptação narrativa como de traço, afirmando-se como um dos mais relevantes autores no panorama nacional. Que se mantenha sempre presente.
“Fatale 5: Amaldiçoa o Demónio” | Ed Brubaker e Sean Phillips
Editora: G. Floy
Com este quinto volume, a G. Gloy encerra este policial hard-boiled com laivos lovecraftianos, da autoria de Ed Brubaker e Sean Phillips. Cinco volumes em torno da história de Josephine – a derradeira femme fatale – provaram ser um número mais do que suficiente para explorar esta mitologia, sem cairmos em qualquer tipo de desgaste ou desmotivação. E que não restem dúvidas: “Fatale” sempre foi, acima de todas as outras personagens, a história de Josephine, a mulher condenada por demónios de outro mundo a percorrer esta Terra, imortal e irresistível, duas características tão desejadas por muitos e tão amaldiçoadas por aqueles que realmente as possuem. (Ler crítica)
“A Dança Das Andorinhas” | Zeina Abirached
Editora: Levoir
Esta história auto-biográfica de Zeina Abirached foca-se num período da sua infância que decorreu durante a guerra do Líbano. Nestas páginas, Abirached narra um dia típico na vida das várias famílias que habitavam o seu prédio, e em como todas se reuniam num andar para enfrentar os tempos mais assustadores. É uma história que, além do interesse social, tem a particularidade de decorrer sempre no mesmo espaço fechado, criando um exercício narrativo de valor.
“Criminosos do Sexo 1” | Matt Fraction e Chip Zdarsky
Editora: Devir
De entre as imensas variações que têm sido criadas na Banda Desenhada sobre pessoas dotadas com habilidades especiais, “Criminosos do Sexo” é uma das que mais sobressai. Curiosamente não tanto pelos poderes, mas pela forma como estes são despoletados. É que neste universo, criado por Matt Fraction e Chip Zdarsky, existem pessoas capazes de parar o tempo… quando atingem o orgasmo. Se o sexo pode funcionar como um escape na vida mundana, aqui essa definição assume todo um novo e mais alargado espectro. (Ler crítica)
“Saga 5” | Brian K. Vaughan e Fiona Staples
Editora: G. Floy
É de continuar a salientar a consistência na qualidade de “Saga”. Brian K. Vaughan, número atrás de número, continua a deixar-nos envolvidos nesta trama familiar onde todos os géneros do fantástico e da ficção-científica se encontram num dos maiores casamentos actuais na ficção. Fiona Staples, sempre segura, continua a demonstrar porque foi a escolha certa no retrato desta aventura. Staples tornou-se numa das desenhadoras mais conhecidas da actualidade graças a esta série, um triunfo que nunca se poderia dever apenas à qualidade do seu argumentista. (Ler crítica)
“Democracia” | Alecos Papadatos, Abraham Kawa e Annie Di Donna
Editora: Bertrand
Para além de um tributo à democracia, este é também um livro que faz uma homenagem à literatura oral e à arte de contar histórias em voz alta. Um livro que apresenta a justiça, a tolerância e a sabedoria como os pilares da deusa Atena, mostrando a natureza humana como balançando entre o sangue de Apolo e o vinho de Dionísio, situada entre a virgindade e o espírito de bacantes. (Ler crítica)
Universo “Star Wars”
Editora: Planeta
No ano em que no ecrã chorámos a morte de um herói e na vida real dissemos adeus à princesa das princesas, a Planeta esteve em grande e acompanhou o regresso de Star Wars à vida de todos nós. Para além da publicação de “A Trilogia Thrawn”, livro em que Timothy Zahn teve o mérito de juntar, às personagens mais conhecidas e amadas, um punhado de novas, sobretudo maus e más da fita, sem nunca tentar desvirtuar o universo primordial da saga, os motivos de celebração foram muitos, tais como as BD`s dedicadas a Darth Vader e à Prinesa Leia ou as deliciosas tiras de Jeffrey Browm, onde vemos Darth Vader às voltas com a parentalidade. Uma aposta global inteiramente ganha.
Os desenhos animados saltam do ecrã para o papel: “O Incrível Mundo de Gumball” e “Hora de Aventuras”
Editora: Devir
É de dar graças aos deuses da BD e, sobretudo, à portuguesa Devir, que nos continua a oferecer algumas das melhores bandas desenhadas fora do universo dos super-heróis clássicos. Este ano chegaram às livrarias duas das mais fantásticas séries de animação que temos podido acompanhar em versão traduzida no Cartoon Network: “Hora de Aventuras” e “O Incrível Mundo de Gumball”. Esta última tem tudo para agradar tanto a miúdos como a graúdos, uma vez que faz uso de um humor rebelde, irreverente e que inclui o espectador – neste caso do leitor – nestes exercícios de escapatória à realidade. Quanto a “Hora de Aventuras”, apresenta uma grande dose de surrealismo, um humor muito próprio e desenhos carregados de cor e expressão. E, também, histórias que abraçam a ideia de contra-cultura, sendo o mais perto que os mais pequenos poderão chegar de uma experiência psicadélica no que toca a bonecos.
Escolhas de Gabriel Martins (com excepção das últimas três, que foram bitaites do editor Pedro Miguel Silva)
4 Commentários
O quê?! Não incluíram o volume 2 de Southern Bastards? Ou o novo Miguelanxo Prado? Tsk tsk tsk…. Parece mal. 🙂
Era um top 15 e já dava, mas vá eu confesso envergonhado que ainda não li o do Prado…
Southern Bastards é o pior que já se editou em Portugal juntamente com o Má Raça, é propaganda que faz Trump ganhar eleições.
E o livro Revisão? Foi o melhor que se fez em Portugal! Mesmo 40 anos depois!!!!
Boa lista eu so acrescentava o Velvet.